1 2 3 GRAVANDO! Da criação ao clipe
No final de maio do ano passado, minha cachorrinha Tina morreu, e foi a primeira vez que passei pela perda de alguém próximo… Aí pensei: tenho que fazer uma música sobre isso. Os dois primeiros versos – “looking when the sun goes down/ I’m try to understand my heart” (que depois foram gramaticalmente ajustados) – tentavam demonstrar uma pessoa que está digerindo uma perda e tentando entender seu próprio coração nesse período em que você se recusa a acreditar que alguém importante para você morreu.
Passaram-se alguns dias, e resolvi escrever sobre a pandemia depois de assistir TV. Pensei que era uma bela oportunidade para sair da mesmice em termos de composição (só conseguia escrever sobre minhas mudanças e sobre uma paixonite de anos atrás). A primeira tentativa foi a música “Last Days of Dying Sun”, melancólica com um ou outro acorde sofisticado…
No fim, eu lembrei dos dois versos que eram para minha recém-falecida cachorrinha. Fui escrevendo os versos enquanto cantava melodias (a parte de escrita e a parte de criação da melodia sempre andam juntas na hora que estou compondo: canto umas 3 notas e já aparece uma palavra que combina com essa nota, e a partir daí a letra toma forma). O resultado foi “Isolation” com uma letra bem diferente da versão final (mantendo aqueles dois versos do começo).
Por fim, percebi que tinha de fazer algo mais direto (Fabiano, meu professor/produtor vivia falando que pareciam três músicas em uma só). Ajustei um pouco as coisas, e surgiu “Ladders of Love”… Eu tentei fazer uma música com o título “Ladders” há 2 anos atrás, mas com um tema completamente diferente.
Mais ajustes, mudanças na letra (recuperei o trecho “construindo um caminho invisível para morrer sozinho” – traduzido nas cochas – da “Isolation”), sem falar que era para a música ter sido lançada em formato acústico. Torci o nariz, mas acabei aceitando a sugestão “elétrica Motown” do meu produtor – de qualquer forma ele aceitou em botar a acústica como lado B. É isso!
Depois de todos esses ajustes, veio a parte do clipe. Ah! Como deu trabalho! Meados de março desse ano, minha mãe sugeriu pedir ajuda para Ana Luísa – uma das minhas 12 primas, pois ela é fotógrafa e tinha feito alguns clipes também (sem falar que ela tinha uns contatos que poderiam ajudar caso fosse algo que estivesse fora de seu alcance). Fiquei um mês enrolando, com preguiça de ficar buscando referências e pensando em cenas sóbrias de baixo orçamento – para fazer um daqueles clipes incríveis que passavam na MTV, eu teria que desembolsar mais de 200 mil reais e olhe lá! Lá nos anos 90, o Guns N´Roses gastava 4 milhões de dólares (hoje em dia estaria na casa dos 20 milhões de reais) em “Estranged”, em que o Slash emerge no oceano enquanto faz um solo de guitarra e o menino Axl Rose dá um rolê com golfinhos… Guardada as devidas proporções, fazer as loucuras cinematográficas que eu estava pensando estava fora de cogitação.
No fim das contas, optei por gravar com o Ian (filho do Fabiano). Provavelmente, minha prima estaria junto com algum outro profissional – o que me deixaria bem tenso! Considerando que custou 800 reais e que o Ian não era um profissional, ficou surreal!
Na manhã de 15 de maio, eu parti numa jornada para comprar pó de maquiagem. Ok! Achei! Tudo perfeito, já que minha mãe sabe fazer maquiagem… Não é, mamãe? Espere… Não me diga que você não sabe? Pois é. Agora tinha cerca de 1 hora para descobrir como fazer maquiagem antes das gravações começarem. Faltavam 20 minutos e… Uma cenoura humana, eu virei uma cenoura humana! Droga! Eu estava louco, gritando “Lápis de olho, lápis de olho!” Por sorte, meu pai foi comprar um na velocidade da luz! Resolvi aproveitar e fazer algo circense: passei o pó no meu cabelo até ficar cinza e BUM! Belezura!
Deu tudo certo: gravamos mais da metade do clipe só naquele dia! Uma semana depois, fizemos a cena que precisava de um banheiro espaçoso (ou seja, na casa do próprio Ian). No dia 12 de junho, postei finalmente esse negócio… Hora de compartilhar com Deus e o mundo! Bom, foi a partir daí que percebi que vida de artista não é fácil!
Matheus Cuelbas.
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.