ABA robotiza as crianças! Mito ou verdade?
Meu filho começou a perder habilidades sociais e de comunicação funcional próximo dos dois anos e meio de idade. Foram dias terríveis de muita dor e incertezas.
Com o diagnóstico de Autismo nas mãos, seis meses depois, fui pesquisar tudo relacionado ao assunto e o que fazer na minha nova realidade, a de mãe atípica!
Nunca tinha ouvido falar em terapia comportamental, análise do comportamento aplicada (ou simplesmente ABA), ou qualquer denominação sinônima para esse tratamento.
Já nas primeiras buscas descobri que era o único tratamento que tinha resultados com comprovação científica e fui ver a opinião de quem era contrário a essa intervenção.
Das pessoas que se posicionaram contrárias, a maioria absoluta dizia que o ABA robotizava as crianças.
Nessa época o meu filho já não respondia a nada do que perguntávamos, 100% das vezes ele repetia o que falávamos e suas frases eram todas reproduções fiéis, em nuances e dicções, de propagandas e vinhetas comerciais.
Lembro de pensar que o autismo tinha robotizado o meu filho, será que o tratamento em análise do comportamento aplicada iria piorar ainda mais a condição dele?
Pesquisei, li, questionei, conversei com mães que eram a favor e outras que eram contra, conversei com profissionais de outras áreas e a resposta veio muito clara: o ABA robotiza as crianças? SIM e NÃO.
SIM. Se seu filho faz ABA com profissionais despreparados, profissionais sem a formação acadêmica devida para tal, sem treinamento e supervisão, com algumas empresas que são boas de marketing mas estão longe de serem competentes em tratamento, terapeutas que não se preocupam com o ser humano por trás do transtorno, terapeutas que, ao desumanizar quem tem autismo, se enrijecem no caminho achando que o fim é o que importa, profissionais que não se importam se os pacientes são crianças e algumas coisas fazem parte do pacote criança e não do pacote Autismo, terapeutas que focam no financeiro e se esquecem que o tratamento correto definirá toda uma vida e capacidade de independência daquele indivíduo.
Então, sim, nesses casos o ABA robotiza as crianças.
Mas também NÃO. O ABA não robotiza as crianças quando é feito com responsabilidade, ética, base acadêmica, profissionalismo, humanismo.
O ABA não robotiza quando são levados em consideração a infância, o ser humano, a família e estrutura familiar.
O ABA não robotiza a criança quando é planejado, customizado, moldado de acordo com as necessidades e evoluções, supervisionado, sólido, adequado, consistente.
A conclusão que tirei das minhas inúmeras pesquisas é que quem robotiza as crianças são os profissionais irresponsáveis, antiéticos, desqualificados, que não se preocupam em fazer uma reciclagem ou especialização, e não o ABA.
Como mãe atípica, o tratamento foi um divisor de águas nas nossas vidas. Meu filho recuperou habilidades perdidas e desenvolveu novas habilidades. Existem sim os dias de “passinhos para trás”, mas as terapeutas dele se reúnem e “recalculam a rota”, considerando a nova realidade e os motivos que levaram à mudança. Nem todos os dias são bons, mas o balanço é sempre positivo.
Sugiro aos familiares que procurem lugares idôneos, com a formação acadêmica devida e não aqueles que têm a fachada mais bonita.
Pergunte, questione, se informe. Seu filho merece receber um tratamento real, digno e com resultados consistentes.
Michelle Carvalho, mãe do Enzo
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.