Ansiedade e Autismo
A ansiedade é uma emoção básica, com função adaptativa, que todos os seres humanos possuem. Quando uma ameaça é detectada, uma região do cérebro produz um conjunto de sintomas de natureza cognitiva (por exemplo, pensamentos ansiógenos) e físicos (aumento na taxa de batimentos cardíacos, sudorese etc.) que indicam para o organismo apresentar uma resposta de defesa (lutar, fugir ou paralisar), que por sua vez serve para proteger o organismo contra um perigo e, possivelmente, para aumentar as chances de sobreviver.
Geralmente, essas reações do organismo podem ocorrer fora do contexto real da situação, independentemente da idade do sujeito. Com isso, principalmente para pessoas mais jovens, grande parte das situações do dia a dia ainda não são familiares , e eles ainda não aprenderam habilidades suficientes para lidar com esses novos eventos. Com as crianças com autismo, não é diferente: a ansiedade tem sido associada aos transtornos do espectro autista desde 1943 e 1944, quando Kanner e Asperger descreveram sintomas de ansiedade nos seus estudos para definir as características do espectro autista. Dentro dos achados, os pesquisadores descreveram uma preocupação excessiva em saber se portar socialmente, necessidade em estar do mesmo jeito (isto é, na mesmice ou estar tudo igual, sem variações) e fobias mais comuns, como medo de tempestades, barulhos altos, animais, entre outros.
Embora as pesquisas e ferramentas de medição de ansiedade com esse público ainda sejam limitadas, os problemas de ansiedade podem estar presentes, especialmente o receio em participar de eventos sociais, seja por não saber como se comportar ou até mesmo pelo medo de se machucar. Igual a todos os seres humanos, cada pessoa com autismo deve ser acolhida de forma única, e as necessidades de cada um devem ser cuidadas de uma maneira individual. Para facilitar a identificação dessas reações desajustadas de ansiedade, é importante investir em habilidades de comunicação que podem ajudar o sujeito a relatar seus pensamentos, estados afetivos e sensações fisiológicas que estão ocorrendo e, juntamente com todos os envolvidos, desenvolver outras habilidades importantes para enfrentamento. Além dessas habilidades, o suporte familiar e social são fundamentais para o enfrentamento. Como a grande variedade de regras sociais que “devem” ser cumpridas podem se tornar desafios difíceis para as pessoas com TEA encararem, o apoio para lidar com esses eventos sempre é importante para facilitar o convívio de todos.
Como apresentado anteriormente, é fundamental a procura de um tratamento individual que ajude a pessoa a desenvolver habilidades importantes para aprender a lidar com os eventos do seu cotidiano, beneficiando seu bem-estar e suas relações.
Luís Fillipe Vaques
Terapeuta sênior e supervisor de treinamentos no Grupo Conduzir
Referência
Davis III, T. E., White, S. W., & Ollendick, T. H. (Eds.). (2014). Handbook of Autism and Anxiety. Autism and Child Psychopathology Series. doi:10.1007/978-3-319-06796-4
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.