Autismo em meninos e meninas: existem diferenças?
Há extensa literatura mostrando que o diagnóstico de autismo em meninos é muito mais comum do que em meninas. A proporção é de uma menina para cada quatro meninos. O que ainda é alvo de investigação é a razão pela qual isto ocorre.
Alguns pesquisadores já atribuíram isso ao fato de que o cérebro masculino é mais “sistematizador”, havendo maior desenvolvimento na área responsável pelo raciocínio lógico, e o cérebro feminino é mais “empático”, tendo maior desenvolvimento na área responsável pela linguagem – cerne do transtorno. Mas este fato, por si só, não explica o fenômeno, dada a multicausalidade do TEA.
Há hipóteses que apontam ao cromossomo sexual X: uma vez que os meninos possuem apenas 1 deste cromossomo, e a menina possui 2, as chances são menores de este sexo apresentar os sintomas comportamentais de tal transtorno.
O que isto quer dizer na prática?
Há pesquisas que sugerem que entre as crianças com alto QI verbal, os meninos são substancialmente mais vulneráveis do que as meninas aos déficits sociais-comunicativos. Possuir características cerebrais mais favoráveis ao desenvolvimento da comunicação, pode explicar o porquê as meninas apresentam sintomas mais “amenos”, muitas delas não são sequer diagnosticadas. Em contrapartida, a minoria com diagnóstico apresenta dificuldade global maior do que meninos em geral, uma vez que é preciso ter mais quantidade de fatores genéticos para que as características do transtorno sejam reconhecidas.
E como se observa o fator social?
Há pesquisas demonstrando que meninos com TEA são mais socialmente excluídos do que as meninas. Então até que ponto podemos pensar que a cultura pode favorecer a maior dificuldade no diagnóstico de meninas? É mais “esperado” que meninas sejam mais “tímidas” e falem menos.
Talvez a população feminina seja menos percebida devido ao padrão comportamental esperado em nossa sociedade e devido à já citada facilidade feminina em sobrepujar as dificuldades centrais do transtorno.
Ainda estamos distantes de entender a causa do Autismo, que dirá as diferenças de suas manifestações dentre os sexos. No entanto o fundamental é compreender cada indivíduo com o transtorno como único, para prover inclusão e terapia apropriada às suas necessidades.
Referências Bibliográficas:
- Michelle Dean Connie Kasari Wendy Shih Fred Frankel Rondalyn Whitney Rebecca Landa Catherine LordFelice Orlich Bryan King Robin Harwood.
- Journal of Child Psychology and PsychiatryVolume 55, Issue 11 – Is autism really a coherent syndrome in boys, or girls? David H. Skuse* Behavioural and Brain Sciences Unit, Institute of Child Health, London, UK.
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.