Capacitismo na escola

Capacitismo na escola

  • Grupo Conduzir admin
  • 1 de outubro de 2021
  • Blog

Dia desses soube de um episódio de duas irmãs gêmeas, uma autista e a outra não, estudantes na mesma escola. Ao final do semestre letivo, a mãe foi buscar os trabalhos e atividades realizadas em sala de aula de suas duas filhas. Uma, a que tem o desenvolvimento neurológico típico para a idade, tinha um calhamaço de folhas pintadas com tintas de várias cores, desenhos, iniciação da alfabetização, atividades lindamente feitas para a mamãe orgulhosa.

A outra, que é autista, estava com as folhas dos seus trabalhos em branco.  Não havia erro nas pinturas, porque não houve tentativas de desenvolvimento. Não existia um calhamaço e sim uma folha ou outra, e os livros de atividades na iniciação da alfabetização, comprados com esforço pelos pais, estavam em branco. Não tentaram, não insistiram, não buscaram alternativas, não fizeram um plano de desenvolvimento individual. Partiram do pressuposto de que era difícil para a criança e se esconderam atrás da famosa e tão escutada desculpa: “estávamos desenvolvendo a interação social”. 

Mas a realidade é que a dificuldade está no educador em enxergar potencialidades. Em sair da zona de conforto de um planejamento coletivo e olhar para as individualidades.

A dificuldade está nos adultos que possuem o capacitismo tão presente no seu próprio desenvolvimento, que assumem a crença de que pertencer ao mesmo espaço físico é suficiente. Como se fosse um favor às crianças com transtorno neurológico de desenvolvimento estar ali, junto aos “normais “, compartilhando a mesma rotina. Não se atentando para a necessidade de compartilhamento de vivências, experiências, desenvolvimentos, troca de aprendizados, de evoluções, de ensino. 

Educadores sendo barrados não pelo diagnóstico das crianças mas pelo seu próprio capacitismo, impedindo o crescimento e desenvolvimento dos alunos.

Que tenhamos cada dia mais professores libertos de preconceitos, libertos de capacitismo disfarçados de proteção. Que possamos ver, ao final dos semestres, mais folhas cheias de tintas, de pontilhados, de desenhos, de letras surgindo… que possamos ver as tentativas frutificarem, desprendidos do tempo, mas com a certeza da capacidade de cada um.

 

Michelle, mãe do Enzo 💙 

 

 

*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.