Confissões de um diabo arrependido: Dia 1
2019 começou como um ano de planos, um projeto para arrancar a sensação de que eu era um inútil que não conseguiu concluir nenhum projeto no ano anterior. Faculdade? Um ato impulsivo de quem ainda estava emocionalmente abalado por causa do colégio em que eu estudava. E depois…curso de cinema? Patético, foi só umas duas semanas, um peso financeiro para os pais, isso sim! Até por que, de tanto eu bancar o luthier, deu um prejuízo de cerca de 4 mil reais em instrumentos, madeiras, cabos… todos destruídos por nada! Ok, consegui concluir um curso em uma fundação sem fins lucrativos. E daí? Você nem lembra sobre o que se tratava aquilo! Empreendedorismo? Sei lá, não tem mais importância.
O principal projeto era criar uma persona artística, um personagem que fosse melhor do que eu… Por fim, peguei emprestado o primeiro nome do David Bowie e o segundo nome da cantora belga Selah Sue. Para ser sincero, naquela época eu não escutava praticamente nada do Bowie. Só resolvi usar o nome dos dois para criar um contraste entre o moderno e o antigo… Eu queria ser um novo camaleão da música, por assim dizer. Aí nasceu o David Sue – era para ele ter cabelo colorido, lente de contato estilo Marilyn Manson, muito glitter e extravagância. Cheguei a pintar meu cabelo de vermelho! Até que gostei do resultado…
No fim das contas, as coisas saíram dos trilhos em meados de abril. Eu estava bem ansioso por conta da ideia de fazer um EP com a ajuda de Fabiano, meu professor de canto, que também tem experiência no ramo de produção. No fim de março e começo de abril, comecei a defecar sangue… Quando comentei com Fabiano, ele falou que seria bom ver se não era hemorroida. Então, no mesmo dia, fui para o hospital da PUC e já fiz o maior drama: “Eu vou morrer!” “Se não for hemorroida, vai ser câncer de estômago! Vou ter que mandar mensagem para todo mundo me despedindo! Adeus, mundo cruel”.
No fim das contas, a médica fez o exame de toque – mas não muito fundo pois percebeu que iria doer e que era desnecessário. Enfim, o diagnóstico: “cocô duro, falta de fibra”.
Sério isso? Fiquei aliviado. Porém, o mais bizarro estava por vir: eu gostei do exame de toque. Então pensei: “eu sou gay! Não, eu tive paixonites femininas… Eu sou bissexual!”. Um raciocínio bem idiota, convenhamos… Para ser franco, eu não queria admitir que eu era hétero – não queria fazer parte do estereótipo que o termo carrega.
Estereotipias à parte, minha loucura começou aí – logo voltando do hospital, um “diabo” tomou conta de mim. Meu sorriso ficou largo, olhos arregalados e a fala que poderia me transformar num rapper de respeito. Infelizmente eu fiquei com uma ideia de que quase morri e que iria aproveitar essa “nova chance” para consertar os erros do Matheus antissocial, para assim mudar minha vida para sempre. Certo, que comecem as mensagens de texto!
Matheus Cuelbas
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.