Confissões de um diabo arrependido: Dia 2
Bom, quem poderia ser a minha primeira vítima? Não demorei a escolher meu antigo rival, Pedro B. Ele era um cara legal, sabe? Dos meus 6 aos 12 anos, tinha muita inveja dele por duas razões: o cara desenhava melhor que eu e conseguia chamar a atenção das pessoas sendo apenas ele! Só de ficar parado, ele já agia como um imã e com carisma… Só fui ver que ele não passava de um menino simpático e tranquilo aos 13 anos, quando voltamos a estudar na mesma classe. A partir daí, surgiu o desejo de tentar fortalecer nossos laços, mas meu casulo de antissocial transformou meus pés em raízes…
Porém, agora esse casulo havia caído por terra! Não havia medo algum de fazer qualquer coisa… Então, lá estava eu puxando assunto. Matheus Cuelbas iniciando uma conversa e ainda com algo TÃO simplório como: “E aí, Pedro! Beleza?” Acho que devemos internar esse sujeito!
Foi uma conversa bem tranquila, natural. Troquei uns GIFs com ele, e ele retribuiu com um meme do Michael Jackson com rosto desfigurado. Por coincidência, eu saquei qual era daquela imagem, então não hesitei em escrever “rusbé” (nome dado a essa versão medonha do pobre Michael). Obviamente ele ficou muito surpreso por eu conhecer algo da cultura jovem… Caramba! Aproveitei que estava conversando com o sujeito mais popular da escola e perguntei se ele não poderia passar o contato do pessoal da sala.
Do nada, me deu vontade de sair em direção à casa da minha vó Alice – ficava umas três ou quatro quadras abaixo da minha moradia. Estava correndo, como se tivesse roubado um banco super famoso! Fui até lá, com cara de um rockstar que cheirou um caminhão cheio de cocaína, apenas para dizer: “Eu sou bi! Sabia? Não é incrível? Ha ha ha ha ha!” Depois disso, corri novamente para minha casa para repetir o feito para minha vó Eliza (que mora na frente da minha residência).
Não importa. Depois de voltar ensopado de suor, verifiquei meu WhatsApp, e o Pedro havia me mandado o contato de umas seis pessoas. Conversei com algumas delas: Gabi, Gabriel e quase conversei com Pedro I. (nós éramos bem próximos entre 2011 e 2012), porém eu tinha me encarregado de ajudar meu irmão num trabalho de escola. Em relação a esse trabalho, eu estava enrolando, inventando moda – aquela velha atitude de complicar as coisas (é sério! Queria fazer uma animação com trilha sonora e tudo! Sendo que eu não sabia bulhufas sobre como fazer uma animação).
No fim, eu parei de enrolar, pois o prazo estava acabando. Fazer o que, né? Vamos, então, nos ajoelhar perante a minha ferramenta de edição de vídeo favorita: Windows Movie Maker. Terminei com minha mãe e meu terapeuta Roger olhando preocupados com o nível da minha agitação… Dona Claudia entrou em contato com a Doutora Ana Rosa, minha psiquiatra de longa data, e, no mesmo dia, fomos para o consultório dela… Assim que entrei naquele estado, ela já deu o diagnóstico de que eu era bipolar – algo que adorei descobrir pois explicava muita coisa… O problema era que agora havia entrado mais um termo que fiquei repetindo para o mundo inteiro ouvir! Pelo menos nesse caso não era algo da minha imaginação.
Na parte da noite, começou a loucura: comecei a mandar mensagem para várias pessoas; invoquei com um meme que tinha a foto do Capitão América dizendo que entendeu a referência… conversei com umas 10 pessoas que estudaram comigo na escola 1, outras 10 que estudaram comigo na escola 2, ex-professores (em todas elas, sempre falando da minha falsa hemorroida, da minha recém-descoberta bipolaridade e da minha bissexualidade imaginária). Pensa que é pouca coisa? Nada demais? Ah! Inocente leitor, você vai sentir uma fragrância mortal de vergonha alheia nas próximas crônicas! Prepare-se para o pior!
Matheus Cuelbas
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.