A “Cura do Autismo” a qualquer custo
Sou mãe de uma criança com Autismo. Vivo o Autismo 24 horas por dia e sei exatamente como é sentir medo das crises, das convulsões, da desorganização emocional. Sei como é aterrorizante o medo do bullying, da falsa inclusão, da exclusão. Sei da exaustão de cuidar de uma criança maior com pouquíssima noção de perigo. Conheço na pele as dificuldades limitantes na comunicação, na socialização, no entendimento das regras sociais, na falta de controle fisiológico, nas estereotipias agressivas, nos bombardeios sensoriais e em todas as outras situações que fazem parte do “pacote” Autismo. Sei como é dedicar a vida em prol do filho para que ele se desenvolva e seja cada dia mais independente, e sei também como nós, mães de autistas, gostaríamos de algo com rápido retorno que nos ajudasse nesse processo todo.
Converso diariamente com mães esgotadas, frustradas, tristes, abandonadas, amedrontadas… Participo de grupos de mães exaustas que só querem que os filhos sejam felizes, respeitados, saudáveis, sem convulsões, sem autoagressão, sem autofagia (que se mordem para se acalmar), que filhos adolescentes não precisem mais usar fraldas… E, como em todo lugar existem pessoas que não se importam com o ser humano, pessoas sem princípios e movidas unicamente pelo dinheiro, promessas milagrosas de cura têm surgido.
Aproveitam-se de todo esse cenário e do sofrimento dessas mães para lançar produtos que “curam” o Autismo. Soluções ditas milagrosas, óleos prometendo o fim do Autismo, medicamentos sem nenhuma comprovação científica, terapias com choque… Um verdadeiro show de horror! O desespero de algumas mães as tem levado a experimentar esses métodos, causando danos imensos a seus filhos e piorando bastante a situação ou não surtindo nenhum efeito de melhora, deixando-as mais frustradas do que já estavam. Mas existe um caminho seguro para ajudar os filhos.
Procurem profissionais idôneos que sejam especialistas e aptos em trabalhar com Autismo (psiquiatras, neurologistas, geneticistas, pediatras). Não basta só o título Dr.; é necessário ter competência para exercer algo com impacto direto na vida desses indivíduos.
Psicólogos que façam terapias em análise do comportamento, capacitados e graduados pelos órgãos competentes para exercer tal função. Fonoaudiólogos especialistas em trabalhar com Autismo. Terapeutas ocupacionais que entendam de transtorno do processamento sensorial e que trabalhem com salas preparadas para atender pacientes autistas.
O processo de aprendizagem não é de um dia para o outro, mas é feito de forma consistente e contínua.
Mães, filtrem as informações, cuidado com as promessas vagas e de retorno imediato. Além de ser a voz de nossos filhos, precisamos ser também seus escudos.
Michelle Carvalho, mãe do Enzo
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.