Disfunções Sensoriais

Disfunções Sensoriais

  • Grupo Conduzir admin
  • 10 de novembro de 2022
  • Blog

Quando falamos das disfunções sensoriais nos indivíduos com TEA, muitas pessoas pensam imediatamente nos incômodos com texturas, alimentação e determinados tipos de sons. Esses são, sim, alguns dos problemas sensoriais que esses indivíduos podem apresentar; porém, as disfunções vão muito além dessas hiper-respostas sensoriais. 

As disfunções sensoriais são enquadradas em dois grupos diferentes: modulação sensorial e percepção sensorial.

As disfunções de modulação sensorial estão relacionadas à habilidade do sistema nervoso central em organizar as sensações recebidas. Essa organização garante uma resposta apropriada a um estímulo sensorial, sem hiper ou hipo-reagir, e a modulação adequada dos estímulos sensoriais, contribuindo para a capacidade de autorregulação e gerenciamento dos comportamentos. 

Considera-se um quadro de hiper-reatividade quando o indivíduo tem um limiar neurológico baixo e responde rapidamente ou exageradamente aos estímulos sensoriais, como os incômodos com barulhos, luzes e texturas. Já a hipo-resposta é quando o indivíduo tem um limiar neurológico alto e demora muito para responder a esses estímulos ou muitas vezes nem responde – por exemplo, pessoas que se mordem ou provocam autolesões e parecem demorar muito para sentir dor.  

As disfunções de modulação sensorial podem ser definidas como problemas no ajuste de processamento das mensagens neurais que carregam informações sobre a intensidade, frequência, duração, complexidade e novidade dos estímulos sensoriais.

São nesse grupo de disfunções que se enquadram os incômodos auditivos e táteis, considerados reações de hiper-resposta aos estímulos sensoriais.

 São caracterizados como disfunções de modulação sensorial os transtornos de hiper-reatividade (insegurança gravitacional, reações defensivas e aversivas dos sistemas táteis, auditivos, gustativo e olfativo) e hipo-reatividade (pobre registro desses estímulos). Essas disfunções estão relacionadas tanto à evitação de experiências sensoriais quanto à procura destas, o que muitas vezes causa bastante desconforto para o indivíduo e impacta nas atividades básicas de vida diária. Alguns exemplos de atividades que podem ser afetadas pela hiper ou hiporeatividade são: seletividade alimentar, incômodos para cortar o cabelo ou unhas, desconforto no banho, dificuldade para brincar em brinquedos como o balanço, e não responder ao ser chamado pelo nome. 

Quando se diz que o indivíduo se encontra na faixa ótima de engajamento, isto significa que ele  responde adequadamente aos estímulos do ambiente, sem hiper ou hipo-reagir, com bom nível de atenção, comportamentos adequados, reações emocionais positivas e processamento sensorial. 

Um outro grupo menos conhecido e abordado, do qual é extremamente importante os profissionais e familiares terem conhecimento, são as disfunções de percepção sensorial. 

As disfunções de percepção sensorial, associadas à integração sensorial, estão relacionadas a uma diminuição da habilidade de discriminar toques, movimentos, força ou as posições do corpo no espaço. Podem ser interpretadas como sinal do pobre processamento central das informações sensoriais. Dessa forma, o indivíduo se torna incapaz de utilizar o estímulo sensorial de modo eficiente e/ou eficaz, gerando uma resposta pouco harmoniosa de seus movimentos e uso do corpo em relação ao ambiente. São déficits que se apresentam de maneira relativamente estável ao longo do tempo, diferentemente dos problemas de modulação, que podem flutuar. 

São caracterizadas disfunções de percepção sensorial o pobre controle postural-ocular, a pobre discriminação sensorial (tátil, proprioceptiva, vestibular, visual e auditiva), vestibular integração bilateral e sequenciamento, como também a somatodispraxia. 

Essas disfunções impactam diretamente na capacidade dos indivíduos de atuarem em suas vidas ocupacionais (lazer, escola e trabalho), uma vez que interferem na: percepção corporal; coordenação motora grossa, fina e visual; pobre organização do espaço e de si, e na procura sensorial.

Para o diagnóstico correto de disfunção sensorial, é necessária a avaliação de um terapeuta ocupacional com a formação adequada de Certificação Internacional de Integração Sensorial.

 

Referências: 

Bundy, A.C., Lane, S.J. (2019). Sensory Integration: Theory and Practice, 3a Edição, ED. F.A. DAVIS. 

University of Southern California Sensory Integration Continuing Education Certificate Program, Ludens Cursos. (2018). Curso 1 – Fundamentos Teóricos de Integração Sensorial: da Teoria à Identificação [PowerPoint]. 

University of Southern California Sensory Integration Continuing Education Certificate Program, Ludens Cursos. (2018). Curso 2- Avaliação de Integração Sensorial e Raciocínio Clínico: Da Identificaço à Intervenção [PowerPoint]. 

 

Tatiana Barbosa Ferrari – Coordenadora do Setor de Terapia Ocupacional do Grupo Conduzir

 

 

*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.