Um pouquinho sobre a dupla excepcionalidade
Por aqui falamos muito sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA); no entanto, não devemos fechar os olhos para os outros lados da neurodiversidade! Uma delas, que muitas vezes passa desapercebida, são as Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD).
A AH/SD refere-se a uma condição que pode ser identificada a partir da junção de três fatores (Teoria dos Três Anéis – Renzulli, 1986): inteligência acima da média, envolvimento com a tarefa e criatividade. Tais fatores se manifestam em diferentes áreas das atividades humanas, caracterizadas pelo elevado potencial de aptidões, talentos e habilidades. Embora essa definição pareça se referir somente a pessoas com talentos excepcionais, como Einstein, Mozart, Marie Curie, entre outros prodígios, é um mito dizer que o diagnóstico requer uma genialidade nesse mesmo grau. Uma pessoa com superdotação pode ter altas habilidades e potenciais sem necessariamente ter o impacto social de um grande cientista ou músico famoso. Portanto, o que mais se encontra na categoria AH/SD é aquele aluno com alguma habilidade acima da média e que persiste em um determinado assunto de interesse.
Quando um indivíduo é identificado com AH/SD juntamente com outra condição, podendo ser o autismo, TDAH ou outra neurodivergência, ele é caracterizado com dupla excepcionalidade. Logo, o diagnóstico e a identificação adequados são extremamente importantes para o desenvolvimento de suas potencialidades e para a oferta de suporte adequado para suas necessidades e garantia de seus direitos, sejam eles no contexto clínico, social ou educacional.
Assim como o autismo, as AH/SD fazem parte da política de inclusão escolar. Desta forma, é previsto por lei que uma pessoa identificada com AH/SD possua o direito de ter um Atendimento Educacional Especializado (AEE) que atenda às suas necessidades. No caso de um aluno com dupla excepcionalidade, as adaptações devem atender não só às necessidades do diagnóstico de autismo, mas também às de superdotação.
A superdotação, sobretudo em casos de dupla excepcionalidade, é subidentificada. Ou seja, com certeza todos nós conhecemos alguém que se enquadra nesses critérios diagnósticos e se beneficiaria com essa identificação, mas que costuma ficar à margem da invisibilidade. Portanto, se você identifica esse potencial no seu aluno, paciente ou filho, encaminhe-o para um profissional especializado para confirmar o diagnóstico! Vale enfatizar que a identificação da neurodiversidade é importante não apenas para a inclusão escolar, como também para a garantia de intervenções individualizadas, de acompanhamento médico adequado, de direitos legais, além de ser fundamental para o autoconhecimento do indivíduo.
Referências:
Renzulli, J.S. (1986). The three ring conception of giftedness: A developmental model for creative productivity. In: Sternberg, R.J.; Davidson, J.E. (Eds.). Conceptions of giftedness. New York: Cambridge University Press, p.53-92.
Raissa Viviani Silva