Expectativa X Realidade
Perceber um desenvolvimento atípico no meu próprio filho foi o sentimento mais desconcertante que já tive.
Observar que a minha criança fazia coisas diferentes das crianças da mesma idade, ou não as fazia, foi muito difícil. Meu intuito não era comparar o meu filho com ninguém, nunca fiz parte daquele grupo de mães que “disputam” qual criança fala primeiro, anda primeiro, sorri primeiro… Meu intuito era realmente observar o “padrão de normalidade”, principalmente no que se tratava da comunicação, já que tinha um único filho e a minha experiência como mãe era igualmente única.
Quando encaramos tudo isso de frente, investigamos, recebemos um diagnóstico e nos damos conta de que muitos dos nossos planos futuros inevitavelmente serão alterados, na grande maioria das vezes, vem a fase do LUTO.
A fase dolorosa de desconstruir expectativas…
Essa fase tem durações diferentes de família para família, e ela volta vez em quando, de acordo com a evolução do filho e com a chegada de novas expectativas que insistem em aparecer.
Essa “briga” entre expectativa X Realidade também se dá no entorno familiar.
Familiares que amam, mas não se dispõem em fazer parte da rede de apoio desses pais, porque dizer para os amigos que tem um autista na família é muito diferente de efetivamente ser parte disso.
Planejam passeios com as crianças típicas (normais) nas férias, mas não sabem planejar para o parente autista.
Não se atentam que o fato de o indivíduo ter dificuldade em se comunicar e parecer alheio, não significa que ele não sinta, não se importe, não saiba.
As crianças típicas esperam ansiosamente pelo aniversário, dia das crianças, Natal… Muitos familiares partem do pressuposto de que se as crianças Autistas não demonstram como as outras, não se importam.
A realidade da família com TEA (a de verdade, que vive 24 horas o transtorno) é muito diferente de uma família típica. A rede REAL de apoio é drasticamente diminuída, quando não se torna nula.
As diferenças de desenvolvimento se tornam gritantes com o passar dos anos e quanto mais adulto se torna o autista, mais difícil é a inclusão verdadeira.
Mas todo início de ano, expectativas de que dias melhores virão surgem, unidos à realidade de um amor incondicional que não desiste nunca.
Michelle Carvalho, mãe do Enzo 💙
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.