Funções Comunicativas e Autismo
A Comunicação Funcional pode estar presente antes do surgimento das primeiras palavras. Podemos observá-la desde os olhares e choros que os bebês usam como forma de obter ajuda e exprimir suas vontades.
As Funções Comunicativas fazem parte do desenvolvimento da linguagem e nada mais são do que a intenção de se comunicar apresentada pelo indivíduo.
Dessa forma, podemos dividi-las em dois grupos: (a) as mais interpessoais, que são utilizadas com a intenção de se comunicar com o outro e (b) as menos interpessoais, quando não são dirigidas a um interlocutor e sim a um objeto. Além disso, estão sempre relacionadas a um motivo ou a uma meta.
As Funções Comunicativas podem ser usadas através dos seguintes meios: Verbal (aqueles que possuem mais de 75% dos fonemas da fala), Vocal (aqueles que possuem menos de 75% dos fonemas da fala) e o meio Gestual.
No desenvolvimento neurotípico, podemos observar 20 Funções Comunicativas (Fernandes, 2004) conforme exposto abaixo:
– Pedidos: as cinco Funções que englobam essa categoria são: Pedido de Objeto, Pedido de Ação, Pedido de Consentimento, Pedido de Rotina Social e Pedido de Informação.
– Protestos: as duas Funções que englobam essa categoria são a Expressão de Protesto e o Protesto, propriamente dito.
– Reconhecimento do Outro: atos ou emissões para obter a atenção do outro e indicar o reconhecimento de sua presença.
– Comentário: atos ou emissões usados para dirigir a atenção do outro para um objeto ou evento.
– Exibição: atos usados para atrair a atenção para si.
-Performativo: atos ou emissões usados em esquemas de ação familiares aplicados a objetos. Inclui efeitos sonoros e vocalizações ritualizadas.
– Exclamativo: atos ou emissões que expressam uma reação emocional a um evento ou situação.
– Auto-regulatório: emissões usadas para controlar verbalmente sua própria ação.
– Nomeação: atos ou emissões usados para focalizar sua própria atenção em um objeto ou evento através da identificação do referente.
– Reativos: emissões produzidas enquanto a pessoa examina ou interage com um objeto ou parte do corpo. Não há evidência de intenção comunicativa.
– Não focalizada: Emissões produzidas quando o sujeito não focaliza sua atenção em nenhum objeto ou pessoa.
– Exploratória: atos envolvendo atividades de investigação de um objeto particular ou parte do corpo ou vestimenta do outro.
– Narrativa: emissões destinadas a relatar fatos reais ou imaginários.
– Jogo Compartilhado: atividade organizada compartilhada entre adulto e criança.
– Jogo: atos envolvendo atividade organizada, mas autocentrada; inclui reações circulares primárias.
A comunicação das crianças com TEA tem várias peculiaridades e não segue o mesmo percurso de desenvolvimento observado em crianças típicas. Nem todas as Funções Comunicativas estão sempre presentes nessas crianças e, frequentemente nos casos mais graves, as Funções Comunicativas mais prevalentes são as Menos Interativas, ou seja, aquelas que não demonstram a intenção de se comunicar com o outro, como as Funções Exploratória e Jogo, nas quais não há a intenção de se compartilhar a atividade.
O indivíduo autista expressa um perfil mais homogêneo de Funções Comunicativas, qualitativamente e quantitativamente diferente do perfil de crianças típicas, demonstrando um repertório mais limitado dessas Funções.
Alguns estudos observaram que uma situação dirigida de interação pode produzir um repertório de Funções Comunicativas diferentes, porém não melhor do que a situação espontânea de interação (Santos, 2017).
A intervenção em Fonoaudiologia é importante para estimular a intenção de interação com o outro, sendo este um pré-requisito para o desenvolvimento da comunicação, da linguagem e da fala.
É fundamental a presença de interlocutores atentos às características específicas do indivíduo com TEA e a utilização de estratégias que aproveitem e ampliem cada ato comunicativo observado, seja ele verbal ou não verbal.
O profissional fonoaudiólogo tem o papel na intervenção direta no que se refere às habilidades de comunicação e socialização, com o objetivo de proporcionar aos autistas uma maior autonomia e uso da linguagem funcional (Isaias, 2019).
Referências bibliográficas:
Fernandes, F.D.M.(2004). Pragmática. In: Andrade, C.R.F., Befi-Lopes, D.M., Fernandes, F.D.M., Wertzner, H.F. ABFW: teste de linguagem infantil nas áreas de fonologia, vocabulário, fluência e pragmática, 2a ed. Carapicuíba: Pró-Fono; p.83-97.
Isaías, J.M.R. (2019). Prevalência e Etiologia de Transtornos do Espectro do Autismo: O que mudou nos últimos cinco anos? [Dissertação de mestrado, Faculdade de Ciências da Saúde – Universidade de Beira Interior, Covilhã].
Santos, T.H.F. (2017). Diferentes perspectivas na verificação das habilidades pragmáticas de crianças incluídas no espectro do autismo. 2017. [Tese de doutorado, Faculdade de Medicina – Universidade de São Paulo, São Paulo]. doi:10.11606/T.5.2017.tde-05102017-100324.
Milene Barbosa – Coordenadora do Setor de Especialidades ABA à Fonoaudiologia do Grupo Conduzir
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.