Habilidades Comunicativas
Os déficits de linguagem no Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) se manifestam de formas variadas, e essas alterações, na grande maioria das vezes, estão relacionadas ao uso funcional da linguagem.
O uso funcional da linguagem interpreta e reconhece como linguagem qualquer forma de comunicação, seja ela pelo meio gestual, vocal ou verbal, e está relacionado com a dificuldade de saber como usar a linguagem para comunicar desejos ou interpretar a mensagem passada pelo outro.
O estudo da pragmática da linguagem envolve os aspectos funcionais da linguagem, levando em consideração aspectos não verbais, sociais e ambientais. A pragmática engloba as habilidades comunicativas relacionadas à utilização da linguagem com diferentes funções e objetivos.
Essas habilidades comunicativas referem-se à capacidade do indivíduo em participar de uma sequência interativa de atos de fala, tendo como objetivo a comunicação. Elas podem ser divididas em habilidades de conversação (sendo assim interativas) e habilidades comunicativas não interativas.
As habilidades comunicativas não verbais devem ser estimuladas em crianças com TEA para que elas possam atingir seu potencial em relação às habilidades de interação social.
Toda comunicação deve ser considerada linguagem, e qualquer som ou gesto reproduzido que possa ser interpretado ou reconhecido pelo outro deve ser considerado linguagem e enaltecido nos casos de TEA, especialmente para entender como estimulá-las, seja na escola ou em casa.
Vou então relatar sobre algumas habilidades comunicativas bastante importantes para o desenvolvimento da comunicação e que podem e devem ser estimuladas a todo momento em casa pelos pais, seja em situações da vida diária ou em momentos de brincadeiras.
– Intenção comunicativa: é a utilização da linguagem como meio de interação social, de se dirigir ao outro. Podemos, quando a criança perguntar algo, responder com outra pergunta para incentivar a conversa. Ou podemos também criar situações-problema no dia a dia da criança, fazendo com que ela tenha a intenção de se comunicar para conseguir ajuda ou o que deseja.
– Nomeação: são os atos ou emissões utilizados para focalizar sua própria atenção em um objeto ou ação. Podemos conversar com a criança na hora das refeições, nomeando as comidas e as cores, por exemplo. Na hora do banho e de vestir as roupas, sempre nomear as partes do corpo, as peças do vestuário etc.
– Jogo Compartilhado: é a habilidade de brincar com o outro por meio do compartilhamento de experiências. Devemos sempre estimular a brincadeira compartilhada através de jogos e atividades das quais a criança gosta e priorizando os jogos e atividades que tenham troca de turno (um de cada vez).
– Comentário: se refere à habilidade de identificar ou descrever um objeto ou ação, podendo ser gestual,(apontando, mostrando), vocal ou verbal, sempre com a intenção de expor a informação ao outro. Podemos, com fotos de viagens e passeios, pedir para a criança contar o que aconteceu, onde estava, quando, com quem e assim estaremos estimulando a troca de informações e a interação com a criança.
E, por fim, podemos usar essa mesma estratégia para estimular a habilidade comunicativa de Narrativa, uma habilidade que ajuda o entendimento de sequencias de tempo, ordem cronológica e a escrita de textos com início, meio e fim.
Estimular as habilidades comunicativas em casa, com a família, auxiliará muito na intervenção Fonoaudiológica e no desenvolvimento da comunicação e da linguagem nas crianças com TEA.
Referências
Barbosa, M.R.P. & Fernandes, F.D.M. (2017). Remote follow-up to speech-language intervention for children with Autism Spectrum Disorders (ASD): parents’ feedback regarding structured activities. CoDAS 29(2):e20160119 DOI: 10.1590/2317-1782/20162016119
Fernandes, F.D.M. (2000). Pragmática. In: Andrade, CRF, Berfi-Lopes, DM, Fernandes, FDM, Wertzner, HF. ABFW – Teste de linguagem infantil nas áreas de fonologia, vocabulário, fluência e pragmática. São Paulo: Pró-Fono, p. 77-89.
Sousa, C.B.V. (2018). Abordagem pragmática para estimulação da comunicação em crianças no espectro do autismo: uma proposta de intervenção parental. Master’s Dissertation, Faculdade de Medicina, University of São Paulo, São Paulo. doi:10.11606/D.5.2019.tde-27022019-152420. Retrieved 2021-08-16, from www.teses.usp.br
Milene Barbosa
Fonoaudióloga e Coordenadora do setor ABA a Fonoaudiologia – Grupo Conduzir
CRF 14.900
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.