Interesse restrito

Interesse restrito

  • Grupo Conduzir admin
  • 23 de dezembro de 2021
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Segundo o DSM-V (2013), as pessoas com autismo podem apresentar dificuldades em habilidades sociais, sejam déficits na comunicação verbal ou não-verbal, na interação social ou na reciprocidade emocional. Além dessas dificuldades, padrões repetitivos e restritos em atividades ou interesses podem estar presentes. Por exemplo, falas repetitivas e estereotipadas, movimentos corporais com ou sem objetos, inflexibilidade nas mudanças da rotina e interesses fixos e restritos com diferentes intensidades, muitas vezes incomuns para a maioria da população.

Os Interesses Restritos são objetos e/ou assuntos que são mais importantes para uma pessoa com TEA, isto é, gostam de brincar, conversar ou perguntar apenas sobre esses estímulos prediletos, focando apenas naquilo que é de seu interesse. Por exemplo, uma criança pode gostar apenas de carros e não engajar em brincadeiras que não tenham esses brinquedos ou não dar continuidade a uma conversa a não ser que comente sobre o seu assunto preferido. Outro exemplo seria um adolescente com TEA que tem interesse restrito em fenômenos da natureza. Se num bate-papo outro sujeito, por algum motivo, troca o tema, o adolescente pode pedir para voltar ao assunto de seu interesse ou ter dificuldade de falar sobre qualquer outro tópico. 

Os objetos e assuntos podem ser variados (desde animais até marcas de produtos), mas a característica central é a inflexibilidade em gostar de outros temas ou demonstrar dificuldades em inseri-los em conversas com seus pares ou em novas brincadeiras e atividades. Existem algumas estratégias que podem auxiliar na inserção de novas atividades ou assuntos no contexto das pessoas com TEA, porém deve ser lembrado que todos nós temos preferências distintas e que não necessariamente devemos mudá-las a partir dos interesses dos outros. A ideia principal é apenas aumentar o nosso repertório de conhecer e possivelmente gostar de outras atividades. 

Uma dica seria utilizar o estímulo predileto em brincadeiras com outros estímulos neutros. Retornando ao exemplo da criança que gosta apenas de carros, é possível criar uma brincadeira envolvendo outros meios de transporte, como uma cidade que tenha ônibus, aeroporto e trem. Um super-herói salva os passageiros que estão presos no carro ou leva essas pessoas para pegar o avião e voar para uma ilha deserta. A criatividade é importante para aumentar de maneira gradativa o repertório da criança. Na situação do adolescente, é possível iniciar uma conversa sobre os fenômenos naturais, aproveitar esse assunto para falar sobre situações climáticas em diferentes países e então levar a conversa para comentar sobre as curiosidades de cada país, por exemplo.

Em conclusão, os interesses restritos são estímulos sobre os quais uma pessoa com TEA apresenta foco e fixação, apresentando inabilidade para engajar em conversas ou atividades que não sejam de seu interesse. É muito importante lembrar que cada ser humano tem seus gostos e costumes, mas a ponderação é um ótimo caminho para verificar se esses interesses estão impedindo a pessoa de experimentar atividades, conversas ou brincadeiras novas. Ao invés de bloquear tais focos, podemos utilizá-los para abrir caminhos para novas experiências.

Referências

American Psychiatric Association. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. DSM-5. Porto Alegre: Artmed. 

Gunn, K. C. M., & Delafield-Butt, J. T. (2016). Teaching children with autism spectrum disorder with restricted interests. Review of Educational Research, 86(2), 408–430.

 

Luís Fillipe Vasques
Coordenador de treinamento do Grupo Conduzir

 

 

*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.