Literalidade
Uma comunicação funcional, na qual os diálogos ou monólogos se fazem entendidos pelo ouvinte, é extremamente importante para os relacionamentos e interações sociais.
Para a grande maioria dos autistas que possuem a habilidade de comunicação desenvolvida, o grande desafio é entender o que o outro quer dizer, principalmente quando o falante faz uso de determinadas figuras de linguagem.
As figuras de linguagem configuram um recurso de comunicação que tem como função “alterar” significados, utilizando duplos sentidos, ironias, metáforas…
Grande parte dos autistas possuem o raciocínio linear e o vocabulário literal, falam exatamente o que querem dizer e interpretam a informação exatamente como lhes foi passada.
Por exemplo, falei ao meu filho: “Filho, senta na mesa que já vou levar o almoço”.
Quando cheguei com os pratos, ele estava sentado em cima da mesa.
Em outro dia se assustou porque eu disse: “estou morrendo de calor!”
Só percebi porque ele estava me olhando com os olhinhos arregalados e segurando a minha mão com as mãozinhas suadas, ainda sem repertório verbal para questionar ou sinalizar que não entendeu.
Quando for conversar com uma pessoa com transtorno do espectro autista, fale de forma literal. Ao usar figuras de linguagem, que seja de uma maneira mais didática, fale e explique o sentido literal.
Muitos autistas se sentem frustrados por não entenderem a informação, mas devem enxergar essa peculiaridade com leveza (no sentido de não sentir culpa), acharem graça de si mesmo (no sentido de terem a auto compaixão que merecem) e, acima de tudo, não desistirem de entender e se fazerem entendidos.
A comunicação é uma “arte” que poucos dominam, sejam indivíduos típicos ou atípicos.
Que tenhamos todos maior empatia ao falar e ao ouvir.
Michelle Carvalho, mãe do Enzo 💙
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.