Memória afetiva no Autismo
Todos nós temos lembranças da infância, alguns lugares, cheiros, gostos, músicas, nos levam a uma deliciosa viagem no tempo, são as nossas memórias afetivas.
Não tem relação com datas comemorativas e sim com sensações de amor, acolhimento e segurança.
Com as crianças autistas, apesar de muitas vezes não demonstrarem a importância daquele momento ou o quão prazeroso é aquela atividade, ou ainda mais complexo para alguns deles, nomear e reconhecer sentimentos, não quer dizer que não sintam. Memórias afetivas também são importantes para as crianças autistas.
Autistas adultos, que não tinham quando crianças a habilidade da comunicação funcional, relatam tantas memórias afetivas, descrevem detalhadamente a sensação de ser amado quando comeu aquele bolinho de chuva, ou quando foi levado numa determinada praça, ou aquele pão que fizeram juntos com os pais, o “cheiro daquele abraço”. Memórias essas que seus pais não faziam ideia que existiam, pois naquela determinada situação o indivíduo com Autismo parecia estar alheio ao acontecimento.
O momento atual em que vivemos, de reclusão em nossas casas devido a Pandemia, é um excelente cenário para criarmos memórias afetivas em nossos filhos, sejam eles autistas ou não.
Mesmo que eles não demonstrem, mesmo que pareça não fazer diferença para os autistas, mesmo que seja cansativo e mesmo que a falta de reciprocidade seja desestimulante, lembrem-se que eles só serão crianças uma vez na vida. E sim, apesar de não parecer os sentimentos existem.
É uma fase rica e que reflete todas as outras fases da vida.
As memórias afetivas dos nossos filhos são responsabilidade nossa, não tenho dúvidas de que criá-las trará um acolhimento na fase adulta, assim como acontece com todos nós.
Memória afetiva é um pedaço de amor que carregamos por toda a nossa vida.
E os autistas também merecem.
Michelle Carvalho, mãe do Enzo 💙
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.