Mês de conscientização do autismo: como eu descobri meu diagnóstico?
Por Alice Casimiro (@alice_neurodiversa).
Descobri meu diagnóstico em 2019, quando a psiquiatra e a psicóloga da clínica da família do hospital universitário do Rio de Janeiro me contaram. Eu tinha 20 anos de idade.
Desde bebê existiam comentários sobre eu ser diferente, principalmente da minha avó materna. Eu ficava olhando fixamente para uma direção ou para objetos bem de perto, ignorava quando me chamavam, brincava com as minhas próprias mãos, não fazia contato visual, nem durante a amamentação, e tinha muita dificuldade de aceitar contato físico e determinadas roupas e acessórios. Era bem claro o autismo, mas, naquela época, 1998, poucos médicos davam esse diagnóstico, e praticamente todos eram particulares e cobravam caro.
Fui crescendo e, a cada ano, as características ficavam mais claras. A parte sensorial era o mais perceptível, seguida pelos interesses intensos e restritos, bem como a falta de sorriso social e também o atraso de comunicação.
Quando eu tinha 10 anos de idade, estava tudo muito difícil, pois havia também o isolamento social, que só foi piorando e piorando até o ponto em que tive muitas condições associadas de saúde mental. Além do autismo, tinha TDAH e dispraxia, que por não terem sido oficialmente identificadas, nem recebido intervenções, me deixavam cada vez mais atrasada em relação aos pares da mesma idade.
Na adolescência, minha comunicação sobre como eu me sentia era o choro e a autoagressão, como me dar socos, me arranhar e bater a cabeça na parede. Eu me sentia um caso perdido. Isso somado a problemas familiares graves que fizeram com que eu atingisse a depressão severa e desenvolvesse transtorno de estresse pós-traumático complexo.
Eu já estava fazendo terapia com uma psicóloga, que não era especializada em atendimento para autistas, mas as estratégias não funcionavam comigo e eu não conseguia me expressar pela fala para receber ajuda. Apenas quando construíram uma clínica do SUS perto da minha casa e uma agente de saúde nos visitou, eu tive acesso a profissionais qualificados para fazer o diagnóstico.
Assim, eu e minha família descobrimos que eu era autista, e eu pude me desenvolver através da terapia e do acompanhamento profissional especializado, o que melhorou muito minha qualidade de vida.