Meu primeiro show de rock
Em 2018 conheci um grande artista em uma postagem do meu professor de canto no Facebook. Ele tecia elogios ao cara, o que acabou me motivando a clicar no link… Logo nos primeiros segundos, meus olhos se arregalaram, escutando aquela introdução de blues vinda das mãos de um homem boa pinta num tipo de faroeste. Depois de um minuto, já estampava um sorriso no rosto e meu coração saltitava de uma empolgação que não cabia no peito. Ao final do vídeo, fui logo procurar mais músicas dele… Richie Kotzen, esse era o nome do sujeito que marcaria minha vida.
Consegui achar um show dele on-line com uma ótima qualidade. Foi uma apresentação no Japão em 2015 para divulgar o recém-lançado Canibals. A primeira música foi logo a faixa título… “Que introdução é essa? Caramba! Parando para pensar, a aparência dele me lembra o Chris Cornell, só que mais colorido, pop. Como alguém pode ser tão eclético?” As outras músicas eram igualmente boas, mas resolvi ir atrás do álbum Canibals…
Depois disso, fiquei escutando o álbum dia após dia! Por pelo menos uns 5 meses. Por conta disso, esse disco meio que virou a trilha sonora daquele ano: minha breve passagem pela faculdade; minhas passagens por alguns cursos para tirar a sensação de que eu era um fracassado e o sentimento de me sentir um peso financeiro para os meus pais por nunca concluir nada e fazê-los jogar dinheiro fora.
Um ano depois, descobri que Kotzen viria a Campinas para se apresentar num pub. Achei surreal! Um sonho! Mesmo sabendo que não era impossível, já que a esposa dele é brasileira, ainda achei surreal ser justo em Campinas! Minha cidade querida! Mas eu tinha medo de ir… Nunca fui a um show de rock e ainda por cima tinha medo de ele me reconhecer! Alguns meses antes do show, tive uma crise de bipolaridade e mandei algumas mensagens e áudios para o guitarrista/cantor. Por mais que isso tenha sido claramente um delírio, ainda assim não conseguia descartar essa hipótese.
Agosto! O grande dia… Minha mãe me levou ao pub e ficamos aguardando meus acompanhantes: Fabiano (meu professor de canto), Nara (sua esposa) e por fim Ian e Alice (os filhos). Na época, a Alice tinha menos de 10 anos e estava lá, toda animada para tirar foto com Richie e os outros dois membros da banda. Confesso que fiquei com inveja: ela tirou foto com os três! Talvez o fato de ser uma criança tenha ajudado, já que descobri que Kotzen tem uma certa fobia de muita gente e não era tão aberto a fotos… Eu, Nara e Alice estávamos esperando sentados a uma mesa e, do nada, apareceu um sujeito alto, grisalho e barbudo. “Não pode ser!” pensava enquanto meu corpo tremia e meu coração saltava feito um canguru.
“Deve ser um cara fantasiado, não é possível! Não pode ser real!” Sim, senhoras e senhores, era ele mesmo! Richie Kotzen em pessoa, a pouco mais de 10 passos de onde estávamos! Depois de tirar uma foto com a menina Alice (que inveja! Que inveja!), ele subiu um lance de escadas, indo para algum lugar misterioso.
Após cerca de 2 horas na espera, lá estava eu, em pé, bem pertinho do palco… Foi uma noite mágica! Em uma das músicas, ele começou a fazer um solo supervirtuoso e, do nada, como se fosse a coisa mais normal do mundo, deu uma leve inclinada no corpo para ver um jogo de futebol numa televisão ao lado do palco sem parar o que estava fazendo na guitarra! Sem contar os improvisos… Do nada, simplesmente do nada, ele e o baixista (que era muito mais que bom) tocaram “Dona Lee”, um tema dificílimo de jazz, com uma sincronia perfeita!
O bass man, além de excelente, era um sujeito bem descontraído: enquanto Kotzen fazia mais uma das suas brincadeiras, o homem dos graves tomou um gole de whisky que tinha numa estante próxima do palco. “Ele está tentando ser um bad boy” pensei, depois de acabar o pouco que restava da música. Fiquei tão animado que cantei até as músicas das quais não sabia a letra… Para a surpresa de ninguém, meus caros leitores, fiquei sem voz. Mas valeu a pena…
Matheus Cuelbas
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.