O mês do autismo está chegando: atente-se às falas capacitistas!
Por Alice Casimiro (@alice_neurodiversa).
Em breve estaremos em Abril, mês em que se celebra o Dia Internacional de Conscientização do Autismo. Infelizmente, é um dia que pode ser muito estressante para ativistas autistas, pois veremos muito capacitismo por aí disfarçado de boa intenção e de conteúdo educativo.
Primeiro que as emissoras de televisão irão entrevistar profissionais da saúde ao invés de nos darem espaço, muitos irão se referir ao autismo como doença em rede nacional e colocarão uma carga negativa que mais atrapalha do que ajuda os autistas e suas famílias. Segundo, será mais um momento para reforçar o estereótipo de que o autismo é uma condição masculina e, com isso, atrapalhar ainda mais o diagnóstico de meninas e mulheres, pintando tudo de azul. Terceiro, usarão símbolos com origens capacitistas por total desconhecimento e falta de pesquisa qualificada e de falar com ativistas autistas, como o quebra-cabeça.
Além de tudo isso, vão dar ênfase – isso se não colocarem toda atenção – na infância, ajudando a população a esquecer ainda mais que os autistas crescem e que autistas adolescentes, adultos e idosos carecem de recursos e intervenções que as crianças autistas de hoje possuem.
É muito provável que haja uma reprodução de conceitos ultrapassados, como o de Síndrome de Asperger e de graus de autismo (leve, moderado e severo), que não existem mais. Com certeza também vamos ouvir algumas frases bem desnecessárias, como “autismo infelizmente não tem cura, mas tem tratamento”.
Seria muito bom se a mídia usasse esse dia para dar voz aos próprios autistas, suas dores e alegrias. Poderiam também reforçar a importância da luta das pessoas com deficiência e evidenciar as barreiras que a sociedade capacitista nos coloca diariamente, seja em casa, na escola, no ambiente de trabalho, na rua ou nos espaços de lazer.
Por fim, seria muito benéfico se pudessem ajudar a difundir o conceito de neurodiversidade, incluindo o símbolo, os níveis de suporte, a comunicação aumentativa e alternativa, entre outras muitas coisas que ainda não possuem muito destaque, mas deveriam.