O sentimento de culpa da mãe atípica
Existe um dizer muito famoso no meio das mães que fala:
“Quando nasce uma mãe, nasce junto a culpa!”
A maternidade em si já vem envolta por um sentimento de culpa, associada a uma auto cobrança que mina as energias e a auto confiança das mulheres.
Aquelas que não conseguem amamentar se culpam por não terem leite, pelo bico do seio não facilitar a pega, porque as rachaduras do seio misturam o leite com sangue e o bebê não quer mamar, ou também aquelas que amamentam demais, se culpam porque o filho não se alimenta direito e só quer o peito, a criança fica “mimada” e só quer saber da mãe, a mãe mal consegue ir ao banheiro em paz porque a criança precisa se alimentar toda hora já que o leite não é tão forte quanto era no início.
Aquelas que largam tudo para cuidar dos filhos se sentem culpadas por não contribuírem financeiramente, por não se sentirem úteis, por não conseguirem prover coisas materiais ao filho, e aquelas que precisam sair para trabalhar se sentem culpadas por deixarem os filhos aos cuidados de terceiros, por perderem os detalhes importantes da evolução do filho, acham que a criança se acostumou com a sua ausência e não se importam quando a mãe sai … E assim por diante.
Listar todas as “culpas” aqui daria um livro e não um texto.
Com as mães atípicas isso, de alguma forma, é potencializado.
Quando descobri o diagnóstico de Autismo do meu filho fiz uma retrospectiva da minha gravidez para ver onde eu tinha errado!
O que eu havia feito? O que eu tinha comido? Agrotóxicos? Microondas? Insulina para diabetes gestacional? E se eu não tivesse aplicado a insulina? Perfume demais? Creme na barriga para evitar estrias? Aquela consulta ao obstetra que não consegui ir por estar internada com os vômitos intensos? Ou seria porque vomitei demais durante a gestação? Qual remédio eu havia tomado? Adoçante? Café? O que eu havia sentido?
Li a desumana e completamente equivocada teoria da “mãe geladeira” e procurei no meu histórico algum milésimo de segundo que eu não tenha demonstrado meu amor ao feto que se formava, ou no primeiro ano de vida do meu filho.
O que eu deveria ter feito diferente?
E a resposta é uma só: NADA!
Não poderia ter feito nada diferente, fiz o meu pré natal religiosamente, me alimentei melhor que nunca, cortei refrigerante, fritura, doces. Todos os dias conversava com aquele bebezinho que se formava e nunca vou esquecer a sensação dele mexendo na barriga. O nascimento dele foi a experiência mais incrível e maravilhosa de toda a minha vida. Amei aquele bebê muito antes de ver seu rosto.
Amamentei, cuidei, me dediquei…
Quando nasce a mãe deveria nascer a auto compaixão, o auto acolhimento, associada a perseverança, ao amor, a tolerância, ao aprendizado sem culpas ou cobranças.
Quando nasce um bebê ele começa a descobrir o mundo, quando nasce a mãe ela redefine seu mundo.
Os dois exigem um processo! Esse processo deve e merece ser lindo, leve e prazeroso.
Michelle Carvalho, mãe do Enzo
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.