Os altos e baixos de uma vida atípica
Todos nós temos, no decorrer das nossas vidas, momentos bons e ruins.
Momentos que parece tudo se encaixar em perfeita ordem, caminhando conforme o planejado e momentos que parece tudo confuso, em desordem e retrocessos.
Com as famílias que vivem o Autismo, esses momentos de Altos e Baixos são potencializados pela esperança e pela exaustão.
Comecei o desfralde do meu filho quando ele tinha 3 anos de idade, foi um processo extremamente desgastante, cansativo que durou 4 ANOS!!!
Foram 4 anos de tentativas das mais diversas técnicas que possam imaginar.
Houve um tempo, durante o processo, em que ele começou a beber o próprio xixi e comer as próprias fezes.
Não sei nem descrever a sensação de ver o próprio filho com esse comportamento e nada funcionar para reverter o quadro.
Chorava dias e noites, orava dias e noites, pesquisava dias e noites…
Encontramos finalmente, toda a equipe terapêutica, família e escola, um caminho de sucesso com reforçadores positivos que surtiram efeito, associado a uma maturidade adquirida por ele.
Depois de seis meses, sem NENHUM escape fizemos uma comemoração geral, ganhou presentes e tudo parecia se encaixar.
Meu afilhado nasceu! Meu filho ficou confuso por não saber qual era o papel dele na família depois desse acontecimento, mesmo com o maior cuidado para não diminuí-lo, mesmo com todas as estratégias desenvolvidas para que ele se sentisse parte daquela nova vida que chegava, mesmo com todo o preparo e direcionamento durante a gestação da minha irmã…
Ele reagiu voltando à estaca zero no treino do toalete.
Sei que muitas crianças típicas têm esse tipo de comportamento quando nasce um irmão, mas eu vinha de exaustivos 4 ANOS de tentativas sem sucesso.
Lembro de limpar o chão da sala aos prantos, com berros de desespero e perder o ar algumas vezes. Também chorei no caixa da farmácia ao comprar uma fralda juvenil porque a infantil já não o servia mais.
E depois de respirar fundo, desenvolvemos novas estratégias, criei uma árvore genealógica para que ele entendesse o nosso contexto familiar, mostrei o quanto ele é amado e que esse tipo de amor não entende divisão ou subtração, esse amor só conhece adição e multiplicação.
Me policiei mais para que ele continuasse se sentindo parte importante da equação.
E começamos o treino do zero, com reforços positivos poderosos para ele.
Deu certo!!! Em dois meses tudo já tinha normalizado, ou pelo menos a maior parte.
Ainda alguns escapes noturnos, mas nada que afetasse minha estrutura emocional.
Descobri com esse episódio que altos e baixos sempre vão existir, mas que devemos nos preparar psicologicamente para ambos.
Cuidar do cuidador é tão importante quanto cuidar da criança.
Michelle Carvalho, mãe do Enzo 💙
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.