Para quem devo contar que meu filho tem autismo?
Uma das coisas que nós pais mais tememos em relação aos nossos filhos, é que sejam rotulados pelo diagnóstico.
Deixem de ser o Pedro, Miguel, Sofia, Mateus, Clara, Nicolas, Enzo… Para se tornarem o(a) menino(a) autista.
Muitos médicos, durante a busca pelo diagnóstico, me aconselharam a manter em segredo, tanto a suspeita quanto o diagnóstico para evitar rotulações.
Para quem contar?
Cada família possui relações diferentes, bases estruturais diferentes e existem amigos que são mais efetivamente família que muitos com o mesmo sobrenome. Por isso, essa é uma resposta muito particular.
No meu caso, durante a suspeita e busca pelo diagnóstico eu não contei para quase ninguém, apenas para duas ou três pessoas em quem confio minha vida se necessário.
Depois de seis meses de busca e com o diagnóstico fechado, contei para os amigos e familiares próximos, aqueles que estão sempre conosco, gostaria que eles soubessem como lidar com meu filho, ou tentassem. Fiz uma carta e enviei igualmente para todos.
Passado o meu período de luto, o meu tempo de digerir tanta informação, aceitar que a grande maioria das minhas perguntas não tinham respostas conclusivas, já com o tratamento do meu filho iniciado, me senti apta a contar para todos, me senti forte o suficiente para lutar e lúcida o suficiente para enxergar que a maior arma contra o preconceito é a informação. Criei então o blog De Repente Autista e periodicamente escrevo sobre a nossa trajetória.
O intuito é que cada pessoa que lê meu blog, tenha condições, mesmo que por alguns minutos, de se colocar em meu lugar, se tornar empático por essa luta que não é só minha, mas de tantas mães e pais, tantos profissionais comprometidos e tantas crianças cujos pequenos avanços são enormes vitórias. Crianças estas que não são apenas autistas.
Meu filho tem uma infinidade de características, gosta de escalar, de correr, de nadar, tem o sorriso mais lindo do mundo com uma covinha, é alegre, inteligente, autodidata para línguas estrangeiras, gosta de matemática e geometria, ama música e acha graça quando alguém desafina, adora chocolate e batata frita; quando ama alguém prefere um abraço do que um presente; prefere bolhas de sabão do que vídeo game; é forte e as vezes o abraço é “de urso”; não gosta que agarrem ele, assiste a mesma coisa mil vezes e acha graça as mil vezes; tem o cabelinho liso, os olhos castanhos, tem autismo, é o amor da minha vida, e assim como eu o ensino a respeitar o próximo, deve também ser respeitado.
Apresentá-lo assim para quem quer que seja torna tudo mais natural.
O medo aprisiona e a verdade liberta, seja ela qual for.
Quero que meu filho cresça e viva livre, livre de culpas e questionamentos desnecessários, que tenha consciência que ele é incrível, que ele saiba que o seu funcionamento é um pouco diferente e tudo bem. Sempre estarei aqui para ajudá-lo e quando eu eu não estiver, que eu tenha conseguido informar o maior número de pessoas para que o preconceito e a ignorância se transformem em compaixão, empatia, amor e o mundo consiga enxergar que por trás de cada diagnóstico existe um ser humano, assim como eu e você.
Michelle Carvalho – mãe do Enzo
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.