Precisam-se de médicos ouvintes!
Nessa minha jornada na maternidade atípica, percebi que algumas coisas são quase unânimes entre as mães. Uma delas é a escassez de médicos ouvintes.
Quando somos mães de “primeira viagem “, e nossos filhos são bebezinhos, ainda não conhecemos ao certo aquele serzinho que acabou de chegar. Temos uma insegurança natural de quem não possui em mãos um manual de instruções de algo tão precioso.
Confiamos aos médicos a interpretação daquele bebê, intérpretes da saúde, das necessidades, do tempo de desenvolvimento e da evolução… Uma continuação dos cuidados obstétricos.
Com o tempo, desenvolvemos a habilidade de ler nossos filhos pelo jeitinho de olhar, de respirar, de mexer no berço. Começamos a entender quando o chorinho é de fome, de frio ou simplesmente querendo um aconchego materno. As mudanças dos nossos filhos, imperceptíveis para a maioria, são gritantes para nós. Podemos não saber ao certo a causa, mas enxergamos nitidamente as consequências.
Chegamos ao consultório médico, com a fragilidade e a certeza de uma mãe que vê algo errado em seu filho, e nos deparamos com a descredibilização das nossas percepções.
Médicos que não possuem o hábito de ouvir as mães, que não consideram importante investigar o que foi relatado e outros que ainda ironizam nossas preocupações.
Frases como:
“Cada criança se desenvolve no seu tempo, não importa se ele tem 3 anos e ainda não fala.”
“Ela está é com preguiça de andar.”
“Autismo só é detectado depois dos 5 anos de idade, você é uma mãe precipitada.”
“Isso é birra, não está com dor, não.”
“Não precisa de exames, vou passar um remédio para ela dormir.”
“Seu filho não tem nada, aparentemente. Você quer é o atestado, né?”
Parecem absurdas, mas são mais comuns do que imaginam.
Ao que me parece, médicos ouvintes são “espécies raras”.
Se uma família saiu do conforto do seu lar, ou alterou toda uma rotina para levar aquela criança ao consultório e submetê-la a exames, é porque realmente acredita existir algo fora da normalidade.
Médicos deveriam fazer parte da rede de apoio das famílias, mesmo quando a situação é fora do padrão, quando não é somente uma consulta de rotina.
Deveriam escutar aos pais, maiores interessados no bem estar daquela criança e por quem dão a vida, se necessário for.
Deveriam acolher as angústias e se importar com os relatos.
Deveriam, sim, entender que não escutar pode ser negligenciar.
Meu desejo como mãe é por uma geração de médicos ouvintes, por uma reciclagem de valores e princípios, por uma humanização dos médicos.
Que um consultório médico seja sempre blindado de vaidades e falta de humildade, que seja lugar de escuta, cuidado, compaixão e ação responsável.
Michelle Carvalho, mãe do Enzo 💙
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.