Problemas de comportamento na alimentação de pessoas com TEA
As pessoas com o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresentam comportamentos que podem afetar diferentes áreas de sua vida social. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – V (DSM-V, 2013) aponta que as pessoas com TEA podem apresentar comportamentos restritos e repetitivos em atividades de prazer ou interesses, como movimentos motores repetitivos com ou sem objetos, falas desconexas e/ou estereotipadas e inabilidades em flexibilizar rotinas com sofrimento de pequenas mudanças em seu ambiente ou comportamentos. Em algumas pessoas, esses padrões podem se manifestar em questões alimentares, como resistências relacionadas ao cheiro, textura, tamanho, cor, quantidade ou gosto da comida. Dessa forma, comportamentos indesejados podem aparecer no momento das refeições quando o sujeito com TEA entra em contato com os aspectos apontados anteriormente, como virar a cabeça, bater ou arremessar os talheres, sair da mesa ou até mesmo comportamentos de agressão a si mesmo ou ao outro, engasgamento e vômitos.
Entre as dificuldades de comportamento ao ingerir um alimento estão a Recusa Alimentar e a Seletividade Alimentar. Embora os dois estejam relacionados aos problemas de alimentação da criança, existem diferenças nos padrões dos dois. A recusa está relacionada aos comportamentos inadequados ditos anteriormente (virar a cabeça, sair da mesa e/ou agressões, entre outros) para a maior parte dos alimentos. Por outro lado, a seletividade se refere aos mesmos comportamentos indesejados, porém em relação a uma propriedade específica do alimento, isto é, cor, cheiro, textura, marca do produto alimentar. De maneira geral, as pessoas com Seletividade Alimentar não recusam alimentos desde que esses façam parte dos alimentos preferidos. A persistência desses problemas pode acarretar riscos à saúde da criança de modo que a falta de nutrição adequada prejudica o desenvolvimento físico e cognitivo dela.
Além do que foi apontado anteriormente sobre os problemas alimentares, os pais apresentam dificuldades em ajudar as crianças nas refeições, encorajando-as a comer de diversas maneiras, porém os filhos apresentam diferentes comportamentos problemas, que podem ser sustentados devido aos adultos promoverem muita atenção (ex: “olha que alimento gostoso!”, “este aqui você vai gostar!”) ou entregarem brinquedos para as crianças se distraírem nesses momentos e por fim acabam oferecendo mais alimentos preferidos, o que muitas vezes são pouco nutritivos.
As intervenções baseadas na Análise do Comportamento são eficazes para enfrentar os problemas de comportamento alimentar, porém é necessária a contribuição de diversos profissionais da área da saúde para avaliar e solucionar as dificuldades apontadas nesse texto. Por exemplo, os médicos auxiliam na avaliação dos aspectos biológicos da criança, os nutricionistas indicam os alimentos que são importantes para iniciar ou agregar na rotina alimentar, os fonoaudiólogos ajudam na avaliação dos movimentos motores orais para que a criança esteja suficientemente preparada para mastigar ou engolir o alimento, e os terapeutas ocupacionais podem ajudar na investigação das dificuldades sensoriais quanto à textura do alimento, por exemplo. Já os profissionais da análise do comportamento podem alterar a maneira como a criança reage frente às refeições nos momentos que ocorrerem.
Resumindo o que foi apontado até este ponto, os problemas alimentares podem acarretar dificuldades na saúde da criança e trazer prejuízos nas relações sociais das pessoas que a cercam. Porém, com a avaliação adequada, engajamento da família e procedimentos desenvolvidos com base na realidade de cada um, os problemas podem ser solucionados.
Referência
American Psychiatric Association. (2013). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. DSM-5. Porto Alegre: Artmed.
Bandini, L. G., Anderson, S. E., Curtin, C., Cermak, S., Evans, E. W., Scampini, R., … Must, A. (2010). Food Selectivity in Children with Autism Spectrum Disorders and Typically Developing Children. The Journal of Pediatrics, 157(2), 259–264. doi:10.1016/j.jpeds.2010.02.013
Piazza, C. C. (2008). Feeding disorders and behavior: What have we learned? Developmental Disabilities Research Reviews, 14(2), 174–181. doi:10.1002/ddrr.22
Piazza, C. C., Ibañez, V. F., Kirkwood, C. A., Crowley, J. G., & Haney, S. D. (2020). Function Analysis in Clinical Treatment. Pediatric feeding disorders. Functional Analysis in Clinical Treatment, 151–175 Elsevier. doi:10.1016/b978-0-12-805469-7.00007-3
Piazza, C. C., Fisher, W. W., Brown, K. A., Shore, B. A., Patel, M. R., … Blakely-Smith, A. (2003). Functional Analysis of Inappropriate mealtime behaviors. Journal of Applied Behavior Analysis, 36 (2), 187-204.
Luís Fillipe Vasques
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.