Todos estão de olho em David Sue
Acho que todos devem conhecer uma das expressões mais clichês do universo: “uma luz no fim do túnel”. Imagine que a luz represente uma pequena parte do maior sonho de sua vida… Imaginou? Que tal você continuar o caminho na escuridão tão banal que o afasta do seu grande desejo, quando do nada descobre que não é uma luz, mas uma assustadora explosão incandescente?
Bom, meu caro leitor, o parágrafo acima não é aquela habitual “encheção” de linguiça que você deve estar cansado de lidar, NÃO!
No dia 17 de setembro deste mesmo ano, esse ser vivo, que veste o papel de narrador, gravou um cover despretensioso de Baba O´Riley do fantástico The Who – que era uma das raras canções cuja letra consegui decorar e que ficou boa logo nas primeiras vezes que soltei o gogó. O processo foi basicamente: “123 GRAVANDO!” “TAKE 1! TAKE 2!” “APROVADO? SIM? FECHOU!”
Dei uma leve editada e postei. Que alegria, que diversão! Certo? ERRADO! Um block por direitos autorais! Foi o mala do Pete Townshend? Talvez a gravadora? NÃO! Foi só porque era a trilha sonora do CSI New York. Apenas 30 segundos – sem a clássica introdução que daria algum motivo para este acontecimento tão revoltante. Passou uma semana e resolvi ouvir os conselhos do meu professor de baixo: “Tenta postar naquele IGTV!” Dito e feito, só alegria…
Nesse dia (30 de setembro) uma tia de uma colega de trabalho (vai vendo) adorou meu cover e em poucos segundos começou a compartilhar, marcar um pessoal famoso (Marcos Mion, Evandro Mesquita, Luciano Huck etc.). Não sei como, mas graças a essa “marcação alucinada”, meu vídeo chamou a atenção do Evandro Mesquita. Em poucos minutos após ele ter compartilhado, começou a loucura: formou-se um temporal em torno daquele menino de óculos redondos (em um raro momento em que estava ausente de expectativas), aí começaram a cair dezenas de seguidores de uma forma que minha cara poderia ter ficado deformada (caso essa metáfora fosse, de fato, literal.)
De 52 seguidores até agora (3 dias se passaram) surgiram 1930 presenças virtuais no Instagram; mais mil na página que tenho no Facebook e 593 inscritos no Youtube. Nunca vi tantos búfalos sanguinários, tantas pessoas devorarem toda a arte que reside em meu ser… No atual momento, pouco mais de um mês depois, os números finalmente se estabilizaram em 3.710 seguidores no Instagram, cerca de 3 mil curtidas na página do Facebook e quase 2 mil inscritos no meu canal do Youtube (estou parecendo um daqueles influencers ostentando números de seguidores – a que ponto cheguei… Que vergonha!).
No meio disso, só elogios (parte deles claramente exagerados); pessoas interessadas em conhecer minha história em relação ao autismo (que é mencionado no post do Evandro – que pediu autorização para minha mãe, por intermédio dessa tia alucinada).
Fiquei incomodado com tanta gente falando: “Canta muito e… é autista”, já que não me considero mais Asperger (a categoria do autismo em que sou classificado), mesmo sabendo que não tem cura. Não sei, era como se eu fosse um mentiroso que estivesse usando esse diagnóstico para sensibilizar as pessoas como forma de forçar um reconhecimento. De qualquer forma, minha mãe teve razão em me dizer: “Não é por causa do autismo que estão alucinados com o seu vídeo e sim porque você canta bem. Se você não fosse bom naquilo que faz, o diagnóstico não iria ajudar a repercutir dessa forma”. Isso me tranquilizou bastante – nunca me senti parte do TEA, o que talvez tenha ajudado a construir todo esse sentimento.
E ela tinha razão: conforme fui postando covers semanalmente, 98% das pessoas deixaram de ficar falando do diagnóstico para falar de mim quanto artista… As pessoas que não deixaram de me seguir até agora conseguiram jogar fora o rótulo para ver o conteúdo.
Pois é, devo admitir que todo mundo está de olho em David Sue. David! Você é um pseudônimo de sorte!
Matheus Cuelbas tem 20 anos e considera tanto a escrita quanto a música o combustível de sua vida. Aos 14 recebeu o diagnóstico de Síndrome de Asperger. Como colunista do blog pretende compartilhar as dificuldades e os impactos que o diagnóstico e as terapias tiveram em sua vida tão como as descobertas ao longo de um tortuoso caminho.
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.