Um Recomeço

Um Recomeço

  • Grupo Conduzir admin
  • 27 de maio de 2022
  • Blog

Acredito que em algum momento da vida você já fez alguma coisa que te deixou com vontade de cavar um buraco e fingir que era um avestruz pelo resto de sua existência… David Sue foi a maneira que encontrei de tentar apagar a burrada que fiz. 

Senhoras e Senhores, o orgulho é um monstrinho sacana e criativo que muitas vezes nos puxa pelos calcanhares de formas jamais pensadas. Durante grande parte da minha vida, odiava receber ordens: era do meu jeito e fim de papo!

Quando criança, gostava de brincar sozinho, pois eu podia fazer o que quisesse com meus bonecos – achava que as outras crianças sempre estragavam a brincadeira com sua criatividade questionável. Adorava jogar jogos de luta com os dois controles, sozinho – assim eu nunca iria perder e poderia inventar historinhas e fazer os personagens lutarem na ordem que julgasse adequada. Esse monstrinho orgulhoso viveu dentro de mim até o início de 2020! 

Agora, com esse pequeno contexto da minha personalidade rebelde, transporto vocês ao não tão distante ano de 2018. Nessa época, postei um anúncio na OLX: “faço composições por encomenda mediante a pagamento” ou algo do tipo. Para minha surpresa, um cara respondeu a esse anúncio mostrando interesse: “você faz letras de funk?” Ao ler essa frase, pensei, “no que fui me meter!” Acabei aceitando graças ao poder do “desafio” e o sedutor “dinheiro”. “Beleza, faço sim!” digitei com certa ansiedade. Horas depois, mandei a letra e uma gravação com voz e violão… Não sei o que o produtor funkeiro pensou, mas aquela letra não tinha nada de “tchu tcha tcha, tchu tchu tcha”. Era mais uma MPB ou um pop açucarado Tiago Iorc (recém desaparecido) ou Anavitória… 

Não foi surpresa não ter tido retorno. Mesmo não conseguindo a grana, gostei de fazer esse pop voz e violão – percebi, assistindo o que passava na TV e vi que esse era uma das fórmulas do sucesso! “Bora, vou ser o novo Tiago Iorc!” No mesmo dia escrevi “Anjo Bom”, uma letra romântica que serve para vários tipos de amor: desde crush (odeio essa palavra); um filho; sua mãe ou seu cachorrinho… Sem dúvidas, agradaria gregos e troianos.

Consegui um microfone e uma interface de áudio bem legais com minha prima; pluguei o violão e apertei o botão de gravar; depois era a vez da voz e, por último, um solo de violão… Tinha tudo para dar certo – se eu soubesse como funcionava uma gravação! Nunca tinha feito isso na vida… Uma ajudinha de alguém experiente faria toda a diferença, mas não… meu orgulho nunca abaixaria a cabeça para ninguém, nem para o Quincy Jones (produtor do Michael Jackson).

Resultado: solo de violão bonito, só que alto como buzina de moto; backing vocals cafonas, mais altos que o necessário; base do violão cortada (não gravei os acordes do violão do início ao fim… só fiquei no “copiar e colar”, dando um ar artificial); voz desafinada… A única coisa que salvou foi a introdução (dei um suspiro, seguido de um “let’s go” e um dedilhado bonitinho – que nem é lá grande coisa assim). Porém, eu estava cego pela empolgação de “cara, fui eu mesmo que fiz! E sem ajuda!” Isso me incentivou a colocar nos streamings… A capa ficou fantástica! Pena que o produto estava bom como ovo podre.

Depois de alguns sermões do Fabiano (meu professor de canto e experiente no ramo de produção), comecei a ficar com vergonha daquela pérola… Ok, fiz uma música instrumental de baixo após “Anjo Bom”, mas em 2019 percebi que “Anjo Bom”, “Childhood” (instrumental e baixo) e aquele perfil “Mathy Cuelbas” deveriam ser esquecidos. Por isso, como forma de recomeçar e apagar esse passado obscuro, criei David Sue em janeiro de 2019, juntando David Bowie e Selah Sue (artistas de gerações diferentes) … Tentei pensar em alguns estilos para o David, mas até hoje não encontrei uma identidade visual. 

Em 2019 comecei a tentar abandonar o monstrinho do orgulho e deixei Fabiano produzir um EP com quatro músicas autorais… Depois de ouvir a qualidade de um trabalho feito com o auxílio de quem entende, comecei a abaixar a cabeça. Já em 2021, começamos a produzir meu primeiro álbum com 10 músicas e uma faixa bônus para quem comprar o CD. Esse ano (2022) ele finalmente será lançado… Nas redes sociais, meu público me chama de David, que já virou quase um novo nome no RG: David Matheus Cuelbas de Moura Sue. Missão cumprida!

Matheus Cuelbas

 

*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.