Youtubers com Down conquistam empoderamento a partir da inclusão digital: ‘Eles podem tudo’
Produção de vídeos para o Youtube e uso das redes sociais incentiva autonomia dessas pessoas e o combate ao preconceito, segundo terapeutas de Campinas.
A desenvoltura e a paixão pelas câmeras de jovens youtubers vão muito além da criação de vídeos quando os protagonistas lutam no combate ao preconceito. Com síndrome de Down, uma menina de 9 anos e um jovem de 23, ambos de Campinas (SP), se divertem ao mostrar cenas do cotidiano e como a tecnologia facilita o desenvolvimento e o empoderamento deles na sociedade.
“Criei o canal para acabar com essa era preconceituosa e [ser um incentivo] a favor da inclusão”, conta o jovem down Daniel Lino de Miranda, que usa plataformas digitais e redes sociais contra a discriminação.
Léticia Brocchi, apesar da pouca idade, é cheia de espontaneidade em frente às câmeras. Com temas infantis, mas que divertem e emocionam o público, a jovem mostra a rotina de aulas, passeios e brincadeiras. A mãe, Adriana Brocchi, conta que a menina usa a plataforma para interagir com os amigos e até treinar algumas habilidades, como a fala.
“Muitos pais assustam quando sabem da deficiência do filho. Para esses pais, eu gostaria de dizer: Eles podem tudo! No tempinho deles, eles podem ser o que quiserem”, afirma a mãe.
Compartilhar ideias
Com a ajuda da mãe e de uma amiga para a gravação e edição dos vídeos, Daniel conta que seu canal foi feito para compartilhar ideias sobre a síndrome de Down para todas as pessoas. Seu canal no YouTube, criado em fevereiro de 2017, tem quase mil inscritos.
Danny, como é conhecido, participa do programa vida adulta no Centro de Educação Especial Síndrome de Down (Ceesd), que realiza trabalhos interdisciplinares para facilitar a inserção dessas pessoas na vida em sociedade e no mercado de trabalho.
Lívia Rech de Castro, psicóloga do projeto que Daniel participa, afirma que essa inserção tecnológica estimula a participação de downs na sociedade e no contexto dos dias atuais.
“A gente trabalha os riscos de conversar com pessoas desconhecidas, a vulnerabilidade das redes, da internet e da exposição da imagem, mas como forma de empoderá-los e diminuir esses riscos para que eles acessem esses recursos como qualquer outra pessoa”, conta.
Influência saudável
A não ser pelas sessões de acompanhamento e terapias, a rotina de Letícia se difere pouco do cotidiano de outras crianças da mesma idade. Ela vai à escola, faz lição de casa e brinca, longe ou perto das câmeras. O canal faz sucesso entre os coleguinhas do colégio.
“Frequentemente, as mães de amigas e amigos dela se divertem comentando sobre o filho não querer dormir, ou fazer outra atividade, porque estavam assistindo aos vídeos dela”, relata Adriana.
A mãe conta, ainda, que o canal começou nas brincadeiras de Letícia. Influenciada por youtubers da mesma faixa etária, ela já falava o bordão de abertura do atual canal “Oi amiguinhas e amiguinhos” por todos os cantos.
”Perguntei se ela gostaria de ter um canal e ela respondeu que sim, sem nem hesitar. Nos divertimos muito fazendo os vídeos, ela pede para ser gravada sempre”, diz a mãe, que grava e edita todo o material produzido.
Tecnologia que educa
O lazer não é a única função da internet na vida da pequena youtuber. A ferramenta é utilizada com frequência nas sessões de terapia de Análise Comportamental Aplicada, no Grupo Conduzir, do qual a jovem é paciente.
”Invariavelmente, as crianças precisam ser incluídas no mundo digital para conseguirem ter bom desenvolvimento. Seja na escola, futuramente no mercado de trabalho e até na vida amorosa”, ressalta a neuroterapeuta Renata Michel.
Para Renata, a internet é parte integrada da vida social na atualidade e ter pessoas diferentes neste meio educa, normaliza as diferenças e ensina muito sobre inclusão.
Fonte: Notícia publicada em 21 de março de 2018 pelo site g1.globo.com – com modificações.
*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.