Rigidez Cognitiva no Autismo: o que é e o que fazer?
A rigidez cognitiva é uma das características que frequentemente aparece em pessoas no espectro do autismo, e está diretamente ligada aos padrões restritos e persistentes de comportamento. Quando pensamos em autismo, é comum focarmos nas dificuldades de comunicação. No entanto, a rigidez cognitiva é igualmente importante, pois pode influenciar diversas áreas da vida.
Esse fenômeno se manifesta de diversas formas, como uma forte preferência por certas cores, temas, objetos ou rotinas, dificultando a adaptação a novas situações ou mudanças. Por exemplo, uma criança que se recusa a usar materiais escolares de cores diferentes pode enfrentar dificuldades na aprendizagem pela resistência a coisas que não se alinhem com suas preferências estabelecidas.
Neste conteúdo, vamos explorar em detalhes o que é a rigidez cognitiva, como ela se manifesta em pessoas autistas e quais seus impactos. Além disso, discutiremos as intervenções mais adequadas para ajudar a minimizar esses efeitos, promovendo mais flexibilidade cognitiva e melhorando a qualidade de vida.
O que é Rigidez Cognitiva no Transtorno do Espectro Autista (TEA) e quais suas características?
A rigidez cognitiva, também conhecida como rigidez comportamental, é uma característica comum no Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ela se refere à dificuldade em ajustar pensamentos e comportamentos diante de mudanças no ambiente. Esse desafio se manifesta de várias maneiras, como a insistência em manter rotinas estritas ou a resistência a novas experiências. Em vez de se adaptar às mudanças, a pessoa prefere seguir padrões estabelecidos, o que resulta em comportamentos repetitivos e previsíveis.
Uma das características mais marcantes da rigidez cognitiva é a adesão restrita a rotinas. Por exemplo, pessoas autistas têm dificuldades em lidar com alterações na rotina diária, como mudanças no trajeto para a escola ou nos horários das refeições. Além disso, elas tendem a ter pensamentos persistentemente concretos. Isso significa que podem ter problemas em interpretar metáforas, expressões idiomáticas ou situações abstratas. Consequentemente, esse comportamento limita a capacidade de resolver problemas de forma flexível e criativa, tornando desafiador enfrentar situações novas ou inesperadas.
Outro aspecto importante da rigidez cognitiva é a presença de regras inflexíveis. Indivíduos com TEA frequentemente estabelecem regras pessoais rígidas e têm dificuldades em se afastar delas. Essa inflexibilidade pode se estender a interações sociais, onde a pessoa acha difícil mudar de perspectiva ou considerar diferentes pontos de vista. Como resultado, isso impacta diretamente sua forma de se relacionar com os outros.
Quais são as possíveis causas ou fatores que contribuem para a rigidez cognitiva em indivíduos autistas?
Em autistas a rigidez cognitiva pode ser influenciada por uma série de fatores, sendo as diferenças neurológicas um dos principais. Essas alterações no cérebro afetam a forma como as informações são processadas, levando a uma menor flexibilidade comportamental. Como consequência, os indivíduos se sentem mais confortáveis em ambientes previsíveis e repetitivos, evitando situações que exijam adaptações rápidas ou mudanças.
Além disso, essa preferência por estabilidade é reforçada pelos desafios de processamento sensorial. Afinal, a hipersensibilidade a estímulos pode tornar novos ambientes ou experiências particularmente desconfortáveis. Dessa forma, a dificuldade comunicativa de interpretar emoções e pistas sociais favorecem um comportamento mais rígido, fazendo da previsibilidade uma forma de autoproteção.
Nesse contexto, ambientes e interações que exigem uma compreensão mais sutil das dinâmicas sociais são evitados, reforçando ainda mais os padrões restritos de pensamento e comportamento.
Como a rigidez cognitiva afeta o comportamento e a interação social?
Dependendo do nível, a rigidez cognitiva pode impactar o comportamento e a interação social de autistas, especialmente em situações que exigem maior flexibilidade. Quando uma mudança inesperada ocorre, por exemplo, se amigos combinam uma ida ao museu e, poucos minutos antes do horário marcado, decidem mudar o local de encontro, o indivíduo pode experienciar sintomas de ansiedade e estresse.
Esses sentimentos podem ser tão intensos que a pessoa opta por evitar a situação, recusando o convite e, assim, perdendo uma oportunidade de socialização. Essa tendência pode, ao longo do tempo, levar ao isolamento social e à redução das habilidades de interação, afetando outras áreas da vida, como o trabalho, a escola e a vida em casa.
Sem o apoio adequado, as dificuldades associadas a essa rigidez podem se intensificar, tornando as demandas do cotidiano ainda mais desafiadoras.
Quais estratégias ou intervenções podem ajudar a lidar com a rigidez cognitiva no autismo?
Para lidar com a rigidez cognitiva no autismo, é essencial adotar estratégias eficazes que promovam a flexibilidade e a adaptabilidade. Algumas delas incluem:
Intervenções comportamentais
Uma abordagem eficaz para lidar com a rigidez cognitiva é a implementação de intervenções comportamentais que promovam a variabilidade comportamental (Neuringer, 2002; Abreu-Rodrigues, 2005).
Elas incluem exercícios que focam em mudanças graduais nas rotinas e atividades diárias. O objetivo é criar momentos de aprendizagem que introduzam pequenas variações, ajudando o indivíduo a se adaptar a novas situações com o mínimo de frustração.
É importante lembrar que essas intervenções devem ser desenvolvidas por um profissional qualificado, como um analista do comportamento, para garantir a eficácia e a adequação das estratégias.
Participação da família
Os familiares e amigos próximos desempenham um papel fundamental no suporte às pessoas com rigidez cognitiva. Para auxiliar nesse processo, é importante estabelecer formas claras e previsíveis de comunicação e rotina. Além disso, pequenas doses de incentivo à flexibilidade podem ser incorporadas, sempre considerando o ponto de partida do indivíduo.
Dessa forma, o suporte familiar deve ser coordenado com a orientação de um profissional qualificado, assegurando que as estratégias sejam aplicadas de forma positiva e eficaz. Isso ajuda a criar um ambiente que apoia a adaptação e promove o desenvolvimento de habilidades de flexibilidade.
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Referências
Abreu-Rodrigues, J. (2005). Variabilidade comportamental. Em M. R. de Souza & E. de Rose (Orgs.), Análise do comportamento: pesquisa, teoria e aplicação (pp. 189-210). Artmed.
Neuringer A. (2002). Operant variability: evidence, functions, and theory. Psychonomic bulletin & review, 9(4), 672–705. Link.
Petrolini, V., Jorba, M., & Vicente, A. (2023). What does it take to be rigid? Reflections on the notion of rigidity in autism. Frontiers in psychiatry, 14, 1072362. Link