Apraxia de fala: o que é e como identificar?

Apraxia de fala: o que é e como identificar?

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  • 5 de março de 2025
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A apraxia de fala na infância (AFI) é um transtorno motor da fala que afeta a capacidade da criança de planejar e coordenar os movimentos necessários para produzir a fala. Embora não envolva comprometimento muscular, esse distúrbio dificulta a articulação adequada das palavras, o que pode gerar frustração e dificuldades no processo de comunicação. Em muitos casos, a apraxia de fala está relacionada a condições como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), que pode potencializar as dificuldades na comunicação.

A relação entre apraxia de fala e TEA é complexa, e muitas crianças diagnosticadas com apraxia de fala também apresentam características do espectro autista. Nesse contexto, a AFI pode ser mais difícil de identificar, pois os sinais podem se confundir com os desafios de comunicação típicos do autismo. Portanto, um diagnóstico preciso e uma avaliação detalhada são essenciais para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas eficazes, que envolvem uma equipe interdisciplinar.

Se você deseja saber mais sobre como identificar a apraxia de fala e entender melhor as formas de tratamento, continue a leitura. 

O que é a apraxia de fala?

A apraxia de fala, também conhecida como Apraxia Speech Disorder, é um transtorno motor que impacta a capacidade de uma criança de coordenar os movimentos necessários para a fala. Esse transtorno ocorre sem que haja um comprometimento muscular, ou seja, os músculos responsáveis pela produção da fala estão fisicamente saudáveis, mas a criança tem dificuldades em planejar e executar os movimentos articulares necessários para formar as palavras corretamente. Isso pode resultar em um padrão de fala inconsistente, em que a criança tem dificuldades para pronunciar certas palavras de forma clara e precisa.

Ao contrário de outros distúrbios de fala, a apraxia de fala não é causada por uma fraqueza ou paralisia nos músculos da boca, mas sim pela incapacidade de coordenar as sequências de movimentos que a produção da fala exige. Por isso, as crianças com apraxia de fala frequentemente falam de maneira imprecisa, com dificuldades para imitar sons e palavras, e podem até usar as mesmas palavras de formas diferentes em momentos distintos. 

Além disso, a apraxia de fala pode ser mais difícil de identificar em crianças muito pequenas, pois, inicialmente, os sinais podem se assemelhar a dificuldades no desenvolvimento da linguagem. À medida que a criança cresce, os sintomas se tornam mais evidentes, principalmente na dificuldade para formar palavras mais longas ou frases completas. 

Quais são os sinais mais comuns da apraxia de fala?

A identificação precoce da apraxia de fala é essencial para garantir que a criança receba o tratamento adequado no momento certo. Afinal, quanto mais cedo o transtorno for reconhecido, mais eficazes podem ser as intervenções. Por isso, pais e profissionais devem estar atentos aos sinais que indicam a presença desse transtorno, por exemplo:

Dificuldade em imitar sons e palavras

Crianças com apraxia de fala têm dificuldade em imitar sons ou palavras ditas por outras pessoas, pois não conseguem coordenar os movimentos necessários para produzir os sons corretamente. A imitação é um passo importante no desenvolvimento da fala, e quando há dificuldades nesse processo, pode ser um sinal de problemas no planejamento motor.

Pronúncia inconsistente

A AFI pode fazer com que a criança pronuncie as mesmas palavras de maneiras diferentes em momentos distintos. Isso acontece porque ela tem dificuldade em executar os movimentos articulares de forma consistente, tornando a fala mais difícil de entender.

Esforço excessivo para falar

Crianças com apraxia de fala geralmente demonstram esforço ao tentar falar, principalmente ao produzir certos sons ou palavras. Esse esforço é visível, seja pela tensão facial ou pela frustração, e pode causar cansaço, já que a coordenação necessária para a fala não ocorre automaticamente.

Dificuldade com palavras mais longas

A AFI tende a ser mais evidente em palavras longas ou frases completas, já que essas exigem mais movimentos articulares coordenados. Como resultado, essas palavras podem ser faladas de forma incompleta ou pausada, dificultando a comunicação.

Alterações no ritmo e na entonação

A apraxia de fala pode interferir no ritmo e na entonação da fala. A criança pode apresentar uma fala com ritmo irregular, que pode ser acelerado ou excessivamente lento. Além disso, pode ocorrer uma entonação monótona ou inadequada, o que indica dificuldades no planejamento motor necessário para uma fala fluente e expressiva.

Como é feito o diagnóstico da apraxia de fala?

O diagnóstico da apraxia de fala é realizado por um fonoaudiólogo especializado em transtornos motores da fala. O profissional realiza uma avaliação detalhada da produção da fala da criança, aplicando testes para observar como a criança planeja e coordena os movimentos necessários para a fala. Durante o diagnóstico, são avaliados fatores como a prosódia (ritmo e entonação da fala) e a fluência verbal.

Em alguns casos, um neurologista ou geneticista também pode ser envolvido para investigar possíveis causas neurológicas ou síndromes associadas à apraxia. Dessa forma, o diagnóstico é clínico e pode exigir um acompanhamento contínuo de profissionais para avaliar o progresso da criança e ajustar o tratamento conforme necessário.

Qual a estratégia terapêutica mais recomendada para apraxia de fala?

O tratamento da apraxia de fala geralmente envolve uma combinação de abordagens terapêuticas adaptadas às necessidades específicas da criança. Neste contexto, as terapias mais eficazes são aquelas intensivas e frequentes, com o objetivo de melhorar a coordenação motora necessária para a produção da fala, por exemplo:

Método PROMPT

Esta abordagem utiliza pistas táteis, visuais e auditivas para guiar os movimentos articulatórios, ajudando a criança a planejar e coordenar os movimentos necessários para produzir os sons corretamente. O método facilita o planejamento motor da fala e utiliza a estimulação multissensorial, o que torna o processo de aprendizagem mais eficaz. Assim, pistas táteis, como toques suaves nos músculos responsáveis pela articulação, ajudam a criança a conectar as sensações físicas aos sons e palavras.

Terapia de repetição dos movimentos

A repetição sistemática dos movimentos articulares é uma técnica essencial no tratamento da apraxia. Afinal, a prática constante ajuda a fortalecer os padrões motores necessários para produzir uma fala mais fluente. Com a repetição controlada de sons, sílabas e palavras, a criança começa a internalizar os padrões de articulação, melhorando sua coordenação e reduzindo o esforço necessário para falar.

Comunicação alternativa e aumentativa (CAA)

A comunicação alternativa e aumentativa (CAA) é uma ferramenta importante no tratamento da apraxia de fala. Ela pode ser usada para apoiar a criança enquanto ela ainda está no processo de desenvolvimento da fala, ajudando-a a se comunicar de maneira mais eficaz. 

A CAA pode incluir o uso de cartões com imagens, onde a criança aponta para figuras que representam objetos ou ações, ou até mesmo aplicativos digitais que oferecem símbolos e imagens. Essa abordagem facilita a comunicação, reduzindo a frustração e oferecendo uma alternativa até que a fala seja aprimorada. Com o tempo, a CAA pode ser uma ferramenta complementar, mesmo após a criança ter desenvolvido habilidades de fala mais consistentes, promovendo uma comunicação mais fluida.

Como a família pode contribuir para o desenvolvimento da comunicação da criança?

A família tem um papel muito importante no desenvolvimento da comunicação da criança com a apraxia de fala. Em vez de corrigir rigidamente quando ela erra, é melhor incentivar qualquer tentativa de se comunicar, criando um ambiente seguro e acolhedor. Afinal, quando a criança se sente confortável e confiante, ela se arrisca mais a falar e aprende no seu próprio ritmo.

Outra forma de ajudar é estimular a fala no dia a dia, usando brincadeiras, músicas e histórias para tornar a comunicação mais natural e divertida. Lembre-se que repetir em casa as estratégias aprendidas na terapia faz toda a diferença e ajuda a criança a evoluir mais rápido. Além disso, esse envolvimento fortalece o vínculo entre pais e filhos, tornando o aprendizado mais leve e prazeroso.

Para ler mais conteúdos como este e aprender sobre outros aspectos importantes relacionados ao desenvolvimento infantil, continue navegando pelo blog do Conduzir.

Por Milene Barbosa, Coordenadora do Setor de Fonoaudiologia do Grupo Conduzir.