Como preparar jovens e adultos autistas para o mercado de trabalho?

  • Grupo Conduzir admin
  • 2 de maio de 2019
  • Blog

Preparar-se para o mercado de trabalho não é uma tarefa fácil para ninguém. É preciso desenvolver habilidades e apresentar um bom conhecimento de si mesmo para lidar com esses desafios. Para muitas pessoas, um dos maiores obstáculos pode ser como combinar interesse, habilidades e disponibilidade de vagas no mercado.
Para o jovem ou adulto autista, o desafio é ainda maior, isso porque existem algumas habilidades que, ao chegar nessa etapa da vida, é possível que ele não tenha em seu repertório. Habilidades de base como autonomia e auto-cuidado, saber identificar quais são seus interesses, talentos e dificuldades, e o mais difícil, como desenvolver características necessárias para ingressar e, principalmente, se manter no emprego.
É importante ter em mente que o processo para a inserção no mercado de trabalho deve ser feito em etapas, e não, não há uma receita de bolo que levará ao sucesso. O processo deve ser desenhado para cada caso, levando em conta a história de vida da pessoa, aspectos sociais, cognitivos, além de contextualizar todos esses elementos dentro de uma comunidade da qual ele pertence.
Infelizmente, no Brasil, grande parte da população de jovens e adultos autistas não possuem uma rotina ativa de trabalho, seja ele remunerado ou não remunerado. Existem muitas variáveis que podem contribuir com esse dado: a primeira delas é que existem poucos espaços e programas que possam preparar esse indivíduo para tal tarefa. Além disso, quando a criança atinge idades mais avançadas como adolescência e fase adulta, a tendência ao isolamento pode aumentar se não houver um trabalho de base para desenvolvimento das habilidades da linguagem social, repertório sócio-emocional, repertório de autonomia, entre outros, que ajudarão esse indivíduo a ser inserido em sua comunidade.
Dessa forma, a primeira etapa para qualquer processo que leve ao projeto de carreira, deve ser iniciado com o trabalho de discriminação dos interesses da pessoa. Perceber do que gosta e do que não gosta, pode ser muito difícil para um jovem autista, que comumente foi pouco exposto à estímulos que outros jovens tiveram acesso em suas relações interpessoais. Esse é o primeiro pilar que dará início ao projeto.
O segundo elemento está relacionado com a identificação dos talentos, ou seja, aquilo que a pessoa sabe fazer e recebe elogios por isso. Por exemplo, existem indivíduos autistas que são extremamente habilidosos para identificar e memorizar detalhes em um todo. Essa habilidade quando correlacionada ao interesse por computadores, pode auxiliá-lo à buscar por vagas na área de análise de sistemas.
O terceiro elemento se refere à habilidade ou aquilo que será necessário desenvolver. Por exemplo: se um jovem gosta de conhecer pessoas, tem talento para organizar itens e materiais, desenvolver seu repertório de comunicação social, é uma tarefa que poderá levá-lo à um cargo de atendente em uma loja, ou outro local.
O importante é ficar atendo em algumas dicas para desenvolver esse processo:
– Não adianta pular etapas, cada passo deve ser dado procurando equilibrar o nível de motivação da pessoa com a dificuldade da tarefa proposta;
– Sempre utilizar recursos concretos para ensinar novas habilidades e também auxiliar o sujeito a reconhecer seus interesses e talentos;
– Antes de iniciar ou decidir-se por uma vaga, acompanhar profissionais que realizem o trabalho de interesse;
– Família, terapeuta e jovem devem manter a mente aberta para analisar quais vagas procurar que se ajustem ao perfil da pessoa, e não ao perfil esperado socialmente, seja ele qual for;
– O processo deve ser acompanhado por uma equipe técnica especializada nesse serviço, disponibilizada pela empresa ou outros órgãos públicos ou privados, como a equipe terapêutica, para garantir a adaptação do sujeito nesse novo ambiente, bem como a manutenção e desenvolvimento de habilidades em sua nova rotina.
Cada pessoa, com suas habilidades e interesses, pode preencher uma vaga, depende de como será feita a inserção e o olhar voltado para as potencialidades de cada um. Não é um trabalho simples e requer o engajamento de uma rede que articule em diversos âmbitos a inserção dessa pessoa: é responsabilidade da família, terapeutas e empresa, dar o suporte necessário e identificar as adaptações que poderão ser feitas para receber esse adulto que também possui o direito às condições de trabalho propostas pelas leis que regem nossa sociedade.

 

*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.