Confissões de um diabo arrependido: Dia 4

Confissões de um diabo arrependido: Dia 4

  • Grupo Conduzir admin
  • 10 de setembro de 2021
  • Blog

Madrugada, onde os normais dormem e os loucos festejam como reis. O louco aqui estava borbulhando energia! Agora surgiam idealizações de ir assistir o filme dos Vingadores com sua nova “namorada”. Se alguém me dissesse que não existe conversa quando só uma pessoa interage, certamente iria continuar mandando mensagem! Que se dane! Ela pode muito bem responder minhas 200 mensagens depois!

Senhoras e senhores, que comece a palhaçada: “Oi amor! Vamos ir ao cinema hoje?” “AH! Você é muito cabaça mesmo!” “Somos todos cabaços!” “Eu pensei nos nomes dos nossos filhos: Hendrix, Janis, Arnaldo, Raul, Morrison, Jaco…” (foto de Ozzy Osbourne jovem compartilhada) “Olha esse galã! Sabe o que mais ele faz além de morder morcego?” (foto do álbum Sabotage do Black Sabbath compartilhada) “como você pode ver, ele faz sabonete! Entendeu? Sabotage, sabonete! Incrível né?”. “Você conhece um senhor chamado Picamoles?” (referência ao sobrenome exótico de um jogador de futebol). 

Depois de mandar todas essas mensagens e mais algumas sem muita relevância eu resolvi mandar um áudio para a pobre moça em que eu encarnava dois espíritos do rock: Jimi Hendrix (figurinha carimbada dessas minhas últimas crônicas) e Janis Joplin! Sério! É difícil descrever esse chorume para os meus leitores, mas em resumo eu imitei o jeito de falar do Jimi para depois cantar um de seus grandes hits “Purple Haze”. No caso da Janis foi a mesma coisa, só que a cantoria foi bem desafinada do começo ao fim. Será que ela chegou a ouvir essa porcaria antes de me bloquear? Espero que não…

Na mesma madrugada chegou a vez de mais uma vítima: Dona Laura. Até o momento mandei mais de 200 mensagens com algumas variações do infame meme do Capitão América e do Tom Hanks acenando com um “Thanks” em destaque (até respondi um SMS da minha operadora de celular achando que era minha ex-colega). Já que ela não respondia eu resolvi ligar. E infelizmente ela atendeu… “OI LAURA! COMO VOCÊ ESTÁ? LEMBRA DE MIM? É O MATHEUS DO PROVECTO!” – disse aos berros e em câmera lenta (para mim eu estava falando num tom de voz normal). Ela ficou tão bolada que mandou o namorado dela falar comigo (no fim me simpatizei com ele, conversamos sobre poemas, ele fazia teatro e gostava de Baudelaire e esse tipo de coisa…).

Na parte da tarde, recebi um telefonema e atendi com um sotaque curitibano. Era a mãe da Laura me pedindo para deixar sua filha em paz. Falei tranquilamente com ela, entretanto depois fui ao whatsapp e mandei um áudio gritando com a mulher até acabar abaixando o tom no final: VOCÊ NÃO ME ENTENDE! EU SOU BIPOLAR! PENSA QUE É FÁCIL! ENFIM, DESCULPA ESTAR EXALTADO. VOU DEIXAR SUA FILHA EM PAZ! Desculpa o incômodo.

Depois disso veio um período meu deprê por meses daquele ano: me sentia um lixo humano por causa de tudo que fiz nesses quatro dias e comecei a ficar no meu quarto revezando entre Youtube, anime e muitos sanduíches. Estava pouco me importando com o que seria da minha vida dali para a frente… Até chegar num ponto que o espelho a me fazer sentir pior: engordei 11kg, me sentia decadente, um pedaço de carne podre inútil… 

Nunca escrevi sobre esses dias antes. É interessante como o tempo é capaz de curar as feridas ou ensinar da forma mais dolorida. Hoje em dia parei de ver esses quatro dias como vilões, mas sim como uma ferida que me fez crescer como ser humano.

 

Matheus Cuelbas

 

 

*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.