Precisamos entender que o desenvolvimento da escrita vai muito além dos treinos de cópias de traçados e o uso dos cadernos de caligrafia. Muito é exigido por esse tipo de atividade, e pouco investido nas habilidades consideradas pré-requisitos para o desenvolvimento da escrita. 

É muito comum nos dias de hoje que a escrita seja exigida cada vez mais cedo sem a maturidade do sistema sensorial e motor, que são essenciais para o desenvolvimento dessa aquisição. Em geral, a escrita acaba sendo um processo difícil para todos os envolvidos quando a criança não está preparada para desenvolver essa habilidade.

A escrita é um produto da motricidade fina e envolve muitas competências que necessitam funcionar em sincronia. Existem quatro sistemas sensoriais principais que contribuem para o desempenho da escrita:

• Sistema Visual – Esse sistema precisa trabalhar junto com os outros sistemas para guiar o indivíduo visualmente pela folha, para a discriminação das direções dos traçados, a distinção de letras parecidas, entre outras habilidades visuais;
• Sistema Vestibular – Sistema responsável pelo tônus muscular de tronco superior e pescoço (que interfere diretamente na manutenção da postura), pelo desenvolvimento de habilidades espaciais (como direita e esquerda), além da integração com o sistema visual (que permite sincronizar os movimentos da cabeça e dos olhos) indispensáveis para a criança realizar uma cópia.
• Sistema Tátil – Esse sistema trabalha juntamente com o sistema proprioceptivo; ambos são responsáveis pela adequação da motricidade fina, que contribui para o posicionamento do lápis entre os dedos e a dissociação dos dedos necessários para a realização dos traçados.
• Sistema proprioceptivo – É o sistema que informa quanta força o indivíduo tem que colocar para segurar o lápis e o quanto precisa pressionar esse lápis para que o traçado apareça.

Se qualquer uma dessas competências estiver imatura, poderá influenciar diretamente no desenvolvimento da escrita. 

Deve-se ressaltar também que o uso dos adaptadores, em sua maioria, não resolve o problema de preensão do lápis e que não existem soluções mágicas dentro de um quadro tão complexo como o desenvolvimento da escrita. É importante uma avaliação minuciosa por um terapeuta ocupacional quanto ao uso desse adaptador e a contribuição ou não para um melhor padrão do desempenho da escrita.

E, por último e não menos importante, deve-se fazer uma reflexão do quanto a exigência de cópias e traçados em um indivíduo que não tem os pré-requisitos necessários pode se tornar aversivo e frustrante, uma vez que, se não for trabalhado todo o sistema  sensorial envolvido nessa habilidade, pouco irá adquirir tal conquista. Muitas vezes é mais importante colocar esse indivíduo para, por exemplo, brincar no trepa-trepa, andar de carrinho de mão, pintar com o dedo, jogar amarelinha ou montar quebra-cabeças antes de exigir o lápis e o papel!

Referências:

Liddle, T. L., & Yorke, L. (2007). Coordenação Motora. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda.

Cerrano, P., & de Luque, C. (2016). A Criança e a Motricidade Fina. São Paulo: Papa – Letras.

Tatiana Barbosa Ferrari – Coordenadora do Setor de Terapia Ocupacional do Grupo Conduzir

*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.