O autismo, na grande maioria das vezes, afeta a habilidade de comunicação funcional de um indivíduo.  Quando crianças, a ausência de um amplo repertório verbal e/ou dificuldade no entendimento de diálogos complexos para um cérebro neurodiverso faz com que as pessoas não interajam com as crianças autistas, por desconhecimento ou pela expectativa de uma reciprocidade imediata.

Alguns adultos com comportamentos capacitistas ignoram a presença dessas crianças e perguntam sobre elas para os responsáveis, como se elas não entendessem ou não fossem capazes de responder por si mesmas.

A situação se agrava um pouco quando, num contexto social, existem outras crianças, estas com o desenvolvimento típico. Então, a “invisibilidade” das crianças autistas se torna gritante, causando feridas emocionais naquelas crianças e em seus pais, além de afetar drasticamente a autoestima delas.

Não raramente vejo adultos interagirem apenas com as crianças típicas, brincando e se divertindo com elas, enquanto sinalizo de um jeito sutil para ser imperceptível às crianças, que meu filho está ali esperando por uma atenção com um jeito diferente de demonstrar que gostaria de participar, mas não menos receptivo à brincadeira divertida.

A insensibilidade de alguns adultos em relação a isso é muito dolorosa. 

Depois de um desabafo sobre o quanto essa insensibilidade havia me machucado numa situação específica, uma pessoa me disse uma vez: “Ninguém faz isso por mal”.

Sim, eu sei que a imensa maioria não faz por mal e não tem intenção excludente, mas não muda nada o fato que, sim, é uma exclusão e, sim, dói. 

Que possamos olhar para o todo, lembrar que são igualmente crianças que merecem respeito e afeto igual aos indivíduos típicos.

Relações sociais deixam marcas em todos. Que tenhamos sensibilidade de plantar boas sementes e colher lindos frutos no coração do outro.

Michelle Carvalho, mãe do Enzo 💙 

*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.