Algumas crianças autistas possuem distúrbios de sono associados ao Transtorno do Espectro Autista por conta de diversos fatores.

Especialistas apontam algumas estratégias para minimizar esses sintomas, analisando caso a caso e entendendo o contexto e situações antecedentes.

Mas aqui quero relatar a minha vivência pessoal e a exaustão que a privação de sono causa no cuidador.

Meu filho tem dificuldade de “desacelerar” e, mesmo fazendo toda a rotina do sono, reduzindo os estímulos quando anoitece, redução da luminosidade de forma gradativa e outras instruções específicas, algumas vezes ele demora 4 horas para dormir. Ou seja, se deitamos às 22:00, ele consegue dormir às 2:00 da manhã. Ele levanta, senta, faz stim, fala coisas sem contexto, ecoa o que viveu durante o dia, fala frases de desenhos que ouviu em outros dias, liga e desliga o ventilador de teto, pede água, vai ao banheiro quatro vezes em média, deita junto comigo, deita separado, depois junto de novo, mexe no meu cabelo, muitas vezes sem noção da própria força… 

Em algumas semanas, as estratégias funcionam; em outras, não; e nessas passamos semanas com privação parcial de sono, noites mal dormidas, exaustão, irritabilidade, frustração e cansaço extremo. Junto vem a culpa da mãe, culpa por estar irritada, cansada, sem paciência. Culpa por não render no trabalho, nem em casa, e por se sentir ineficiente. Culpa por achar que está fazendo algo errado e que, se pudesse ler a mente do outro, conseguiria ajudar melhor.

Tinha essa sensação quando meu filho amamentava e acordava a cada 3 horas para mamar, independentemente se era dia ou noite.

Para esses dias difíceis, uma rede de apoio é fundamental, alguém que permita ao cuidador uma noite inteira de sono, que troque, que cuide, que brinque com a criança para o cuidador descansar. 

Alguém que se habilite em ser uma rede de apoio efetiva e funcional. 

Que entenda o que é uma criança, antes de tudo, e que tenha energia de sobra.

A privação de sono, comprovadamente, altera o sistema imunológico do ser humano, se tornando fator agravante de enfermidades físicas e psicológicas. 

Se você conhece alguma criança autista que tenha distúrbios de sono, procure saber se pode ajudar de alguma forma. 

Evite julgar, só dê opinião se você for especialista. Sem dúvida essas famílias precisam de menos discurso e mais ações. 

Michelle Carvalho, mãe do Enzo 💙 

*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.