Protocolo de Pareamento

Protocolo de Pareamento

  • Grupo Conduzir admin
  • 22 de agosto de 2022
  • Blog

O protocolo de pareamento é um documento norteador para a equipe técnica de como o processo de vinculação (pareamento) com o cliente deve ser feito. Através desse processo, o terapeuta, combinado com itens de interesse, ganha valor reforçador, ou seja, torna-se interessante para o cliente. Esse protocolo foi desenvolvido exclusivamente para atuação do Grupo Conduzir e surgiu da necessidade de revermos a literatura sobre pareamento e reestruturarmos o passo a passo de como o processo deve ser desenvolvido para gerar resultados mais eficazes e eficientes.

O objetivo do protocolo de pareamento é tornar o contexto terapêutico tão reforçador quanto outras atividades de preferência do cliente, para que a transição do contexto “natural/real” para o contexto terapêutico signifique uma transição para um ambiente também altamente reforçador e não para um ambiente aversivo (Sundberg & Partington, 1998; Carbone, Morgenstern, Zecchin-Tirri & Kolberg, 2010). Quando o processo de pareamento ocorre de maneira efetiva, é possível que seja observado uma diminuição de comportamentos-problema e um aumento de comportamentos de cooperação.  

  O papel do terapeuta no processo de pareamento envolve disponibilizar itens e atividades de preferência e seguir as escolhas de interação do cliente. Durante essa interação, o terapeuta dispõe dos itens desejados sem nenhuma exigência, para que o cliente comece a “entender” que “coisas boas virão do terapeuta” (Kelly, Allen, Axe & Maguire, 2015). Espera-se com esse processo que o cliente demonstre comportamentos frente à terapia e ao terapeuta similares a aqueles comportamentos emitidos na presença de itens e atividades reforçadoras. Ou seja, o terapeuta e a terapia tornam-se tão reforçadores quanto os itens preferidos. 

Para que o pareamento ocorra, o terapeuta deve apresentar um conjunto de habilidades “PRIDE” que vem da literatura e que são descritas no protocolo, tais como habilidades de elogiar, refletir, imitar, descrever e curtir; além de outras três habilidades adicionais que se mostraram relevantes (considerar, oferecer e negociar) e que foram estruturadas pelo Grupo Conduzir, originando a sigla “PRIDE-CON”. A sistematização dessas habilidades contempla os objetivos de direcionar o foco do terapeuta para o cliente (e não para as demandas da intervenção) e deixar claro que o terapeuta é quem deve prover os reforçadores ao cliente.

Além do conjunto de habilidades, o terapeuta deve seguir oito fases diferentes até que seja finalizado todo o processo. Em cada fase existe a descrição exata do que deve ser feito e os critérios a serem atingidos pelo terapeuta para que ele possa avançar para as próximas fases. Além disso, para identificar se os efeitos do pareamento foram alcançados, é necessário observar e medir os comportamentos do cliente no contexto de terapia, tais como: (1) constante proximidade do terapeuta e do ambiente de terapia; (2) permanência no ambiente de terapia; (3) seguimento de demandas relacionadas a programas de manutenção e aquisição e (4) baixas taxas de comportamento-problema (Lugo et al., 2017). Todos os terapeutas são treinados de acordo com a proposta de ensino BST (Behavioral Skills Training) de Sarokoff e Sturmey (2004) até terem atingido a integridade na aplicação do protocolo. Por fim, há no protocolo uma checklist de ações necessárias/pré-requisitos de preparação para iniciar a aplicação, descrições de como coletar linha de base do cliente, orientações do que “não fazer” e do que fazer se alguns problemas de comportamento acontecerem.

Com o fim do processo, espera-se que o objetivo tenha sido alcançado para que seja dado início à intervenção com uma relação bem estabelecida entre cliente-terapeuta e com um contexto terapêutico interessante e reforçador para o cliente.

Referências

Carbone, V. J, Morgenstern, B., Zecchin-Tirri, G., & Kolberg, L. (2010). The role of the reflexive-conditioned motivating operation (CMO-R) during discrete trial instruction of children with autism. Focus on Autism and Developmental Disabilities, 25, 110–124.

Kelly, A. N., Axe, J. B., Allen, R. F., & Maguire, R. W. (2015). Effect of presession pairing on the challenging behavior and academic responding of children with autism. Behavioral Interventions, 30, 135–156.

Lugo, A. M., King, M. L., Lamphere, J. C., & McArdle, P. E. (2017). Developing procedures to improve therapist-child rapport in early intervention. Behavior Analysis in Practice, 10, 395–401. https://doi.org/10.1007/s40617-016-0165-5.

Sundberg, M. L., & Partington, J. W. (1998). Teaching Language to Children with Autism or Other Developmental Disabilities. Danville, CA: Behavior Analysts, Inc.

 

Caroline Espindola, Consultora ABA do Grupo Conduzir

 

 

*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.