TDAH: A importância de uma avaliação consistente no ambiente escolar

TDAH: A importância de uma avaliação consistente no ambiente escolar

  • Grupo Conduzir admin
  • 22 de abril de 2022
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O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade de forma bastante frequente, penetrante e prejudicial (American Psychiatric Association, 2013).

Várias teorias sobre a etiologia do TDAH têm sido propostas, desde explicações de causa singular até modelos que caracterizam o TDAH como um transtorno multifatorial, incluindo fatores genéticos e ambientais.

Apesar de ser um diagnóstico amplamente difundido nos últimos anos, não existem testes neuropsicológicos com poder preditivo suficiente para diagnosticar TDAH.  A bateria de testes de avaliação neuropsicológica tem por finalidade detectar sinais de TDAH através da análise das áreas cognitivas que podem ser afetadas quando o cliente já apresenta um conjunto de características, como déficits em inibição comportamental (Barkley, 1997), disfunções da memória de trabalho, atenção sustentada, controle motor e regulação de afeto. Alguns estudos sugerem também que há déficits em funções não executivas, como aversão ao atraso – ou imediatismo (Sonuga-Barke et al, 2010). Além disso, a dificuldade em regular a excitação frente a estímulos ambientais é frequente. Clinicamente, isso significaria que as características de TDAH são exacerbados durante tarefas demoradas e entediantes (Posner et al, 2020).

Tais conjuntos de características chamam a atenção para a importância de uma avaliação consistente, principalmente no ambiente escolar onde poderá haver maior incidência de alterações comportamentais devido à exigência cognitiva atrelada ao processo de ensino-aprendizagem. 

É importante destacar que crianças afetadas pelo TDAH, embora expressem dificuldades atencionais, podem ser capazes de manter o foco ao realizar tarefas específicas, como jogar videogame, assistir televisão, ou em certas situações de que gostam. O que ressalta o papel da motivação e a importância de uma avaliação que consiga também determinar quais são os reforçadores capazes de manter a criança atenta a uma tarefa. 

No Brasil, escalas como SNAP IV têm sido úteis para quantificar a gravidade das características e monitorar a resposta a terapia No entanto, tal escala apenas consiste em colher informações por meio de um conjunto de perguntas a ser aplicado com pelo menos três pessoas de maior convívio com a criança. Apesar do seu expresso uso, tal escala pouco abrange o ambiente no qual esse aluno possa estar inserido, o que reduz as possibilidades de uma intervenção mais precisa. 

Recentemente, a abordagem de avaliação funcional foi estendida para aplicação em indivíduos cognitivamente normais, deficientes intelectuais leves e TDAH. Com algumas modificações (por exemplo, inclusão de entrevistas de autorrelato), essa metodologia de avaliação tem sido associada ao desenvolvimento de intervenções eficazes para crianças com problemas de conduta e/ou acadêmicos, tanto na escola quanto na clínica (Lewis & Sugai, 1996).

Essa ampla avaliação funcional inclui dados de uma variedade de fontes, incluindo entrevistas com pais, professores e crianças, bem como observações diretas de comportamentos-alvo e eventos ambientais associados (antecedentes e consequências). O objetivo da etapa de análise descritiva é desenvolver hipóteses sobre a função (ou funções) do comportamento problemático, identificando variáveis ​​que definem a ocasião para emissão de repostas e/ou que mantêm o comportamento, tornando então viável a elaboração de um plano de intervenção individualizado. 

 

Referências: 

American Psychiatric Association (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-5. Washington, D.C., American Psychiatric Press.

Barkley, R.A. (1997).Behavioral inhibition, sustained attention, and executive functions: constructing a unifying theory of ADHD. Psychological Bulletin, 121(1):65- 94.

Posner, J, Polanczyk, G.V., & Sonuga-Barke, E. (2020). Attention-deficit hyperactivity disorder. Lancet, 395 (10222): 450-462.

Sonuga-Barke E, Bitsakou P, & Thompson M (2010). Beyond the dual pathway model: evidence for the dissociation of timing, inhibitory, and delay-related impairments in attention-deficit/ hyperactivity disorder. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, 49(4): 345-355.

Lewis, T. J., & Sugai, G. (1996). Functional assessment of problem behavior: A pilot investigation of the comparative and interactive effects of teacher and peer social attention on students in general education settings. School Psychology Quarterly, 11, 1-19.

 

Karen Marconato

Coordenadora do Setor ABA à Educação do Grupo Conduzir

 

*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.