Transtorno e Seletividade Alimentar em pessoas com TEA

Transtorno e Seletividade Alimentar em pessoas com TEA

  • Grupo Conduzir admin
  • 28 de dezembro de 2022
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O comportamento de alimentar-se, embora pareça muito simples para algumas pessoas, é complexo, dinâmico e envolve diversas etapas e habilidades que auxiliam a nutrição, tais como morder o alimento, mastigá-lo, lateralizar o alimento, respirar enquanto o alimento está na boca, preparar para engolir, reter os alimentos ou líquidos na boca (Adams, W., Williams, K., & Ivy, J.,2020 apud Milnes & Piazza, 2013), coordenação cronometrada e sequencial dos lábios, língua, bochechas e mandíbula, que em conjunto promovem um consumo seguro e garantem um crescimento adequado. 

Para a maior parte das crianças, as habilidades e comportamentos associados à alimentação se desenvolvem perfeitamente, como um processo natural e instintivo (Adams, W., Williams, K., & Ivy, J., 2020 apud Kerwin, 1999; Volkert & Piazza, 2012). Entretanto, para crianças diagnosticadas com TEA (Transtorno do Espectro Autista), os problemas alimentares acometem cerca de 70% dessa população (Volker & Vaz, 2010), apresentando diversos problemas fisiológicos de saúde e podendo levar a maiores prejuízos no funcionamento cognitivo, acadêmico ou comportamental. 

Para pessoas com TEA, mesmo pequenas mudanças podem ser aversivas e muitas vezes levam a problemas de comportamento, como choros.  Dessa forma, as crianças aprendem a evitar a comer, engajando-se em comportamentos que são mantidos por suas consequências sociais. Isto é, as respostas dos cuidadores (atenção, repreensão, persuasão) diante do comportamento de recusa da criança, ou até mesmo a remoção imediata do alimento não preferido, podem fortalecer um padrão comportamental mantido por reforço negativo, no qual aquele indivíduo consegue fugir das exigências no momento da refeição. Caso os comportamentos disruptivos não produzam a retirada do alimento, a criança vai refinando seu repertório com uma série de topografias comportamentais alternativas, incluindo expulsão (cuspir o alimento), packing (segurar o alimento na boca por um tempo), engasgos e/ou vômitos (Adams, W., Williams, K., & Ivy, J. 2020 apud Sharp, Odom, & Jaquess, 2012; Vaz, Piazza, Stewart, Volkert, & Groff, 2012).

Quando uma criança apresenta seletividade alimentar, uma avaliação abrangente precisa ser realizada para analisar qual padrão alimentar o indivíduo apresenta. No Grupo Conduzir, os clientes passam por uma avaliação multidisciplinar – com médicos, nutricionistas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos – antes do início da intervenção alimentar, na qual é analisado o padrão comportamental, e são definidos os objetivos a serem trabalhados. 

Diversos estudos vêm mostrando que estratégias baseadas na análise do comportamento aplicada (ABA) são eficazes para aumentar e desenvolver os comportamentos alimentares (aumento de variabilidade de alimentos, ingestão de todos os grupos alimentares, desenvolvimento oral-motor, auto-alimentação, conceito social de refeição), e reduzir comportamentos disruptivos ou inadequados em pessoas com autismo. Por isso, contamos com uma equipe multidisciplinar e especializada na área, todos supervisionados e treinados periodicamente por um BCBA (certificação reconhecida internacionalmente). 

O Grupo Conduzir preza pelo trabalho de uma intervenção intensiva que, conforme evidências científicas, concentra-se principalmente em avaliar a função da recusa alimentar (ou seja, escapar das demandas das refeições), além de melhorar os possíveis efeitos colaterais (por exemplo, choro, interrupções) associados à introdução de alimentos (Volkert e Vaz, 2010). 

Nosso Setor de Seletividade Alimentar inclui sessões alimentares intensivas, treinamento parental e estratégias como: reforço positivo e contingente a comportamentos apropriados na hora das refeições, persistência da mordida (extinção de fuga), redução do alimento, instruções de alta probabilidade seguida de uma instrução de baixa probabilidade (High-p Low-p) e reforço não contingente (NCR). Tais intervenções representam o tratamento mais pesquisado e bem apoiado que ocorre em programas multidisciplinares.

 

Referências: 

Adams, W., Williams, K., & Ivy, J. (2020). Teaching Tongue Lateralization as a Component of Chewing Instruction. Journal of Developmental and Physical Disabilities, 32(3).

Crowley, J.G., Peterson, K.M.. Fisher, W.W., & Piazza, C.C. (2020). Treating food selectivity as resistance to change in children with autism spectrum disorder. JABA, 53(4), 2002-2023. 

Mano, C.J., Fox, C.A., Eicher, P., & Kerwin, M.E. (2005). Early Oral-Motor Interventions for Pediatric Feeding Problems: What, When and How. JEIBI, 2 (3).

Volkert, V.M., Sharp, W.G., Clark, M.C., Ormand, H., Rubio, E.K., McCracken, C., & Bryan, L. (2019). Modified-Bolus Placement as a Therapeutic Tool in the Treatment of Pediatric Feeding Disorders: Analysis from a Retrospective Chart Review. Journal of Speech, Language, and Hearing Research, 62, 3123-3134.

Volkert, V.M., & Vaz, P.C.M. (2010). Recent studies on feeding problems in child with autism. JABA, 43(1), 155-159. 

 

 

Tassia Pina, nossa Gerente ABA

 

 

*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.